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A autocompaixão na trilha da saúde e do bem-estar

A compaixão nasce da capacidade de perceber o sofrimento do outro. O que psicólogos têm constatado é o potencial curativo da autocompaixão, ou de “aprender a ser um amigo caloroso e compreensivo consigo mesmo”, como definiu à BBC Kristin Neff, professora de psicologia educacional da Universidade do Texas. Quem trata bem a si mesmo conquista mais equilíbrio emocional, saúde, bem-estar e produtividade, diz ela.

A constatação parece seguir na contramão de quem procura investir na autocrítica como um caminho seguro para atingir objetivos. Neff percebeu que castigar a si mesmo por eventuais erros não leva a lugar nenhum. Pelo contrário, só aumenta o sofrimento e a insatisfação.

A psicóloga percebeu também um aumento do interesse pelo tema durante a pandemia, por conta de dificuldades decorrentes de ter que se manter isolado, trabalhar remotamente e cuidar de pessoas. Para ela, quando a vida se torna mais difícil, a compaixão por nós mesmos tende a nos fortalecer.

Neff começou a entrar nesse território a partir de um divórcio difícil, no fim dos anos 1990. A dor a levou a fazer um curso de meditação em um centro budista, onde aprendeu a praticar a atenção plena. Ali, ela também entrou em contato com a compaixão. Não custou a perceber que quando direcionava este sentimento a si mesma, era invadida por uma sensação de conforto. “Notei uma diferença imediata”, diz.

 

TESTE COM PARÂMETROS A SEREM AVALIADOS

Seu interesse a levou a fazer uma pesquisa sobre o tema, começando por diferenciar a autocompaixão da autoestima. Embora possam parecer semelhantes, elas são bem distintas. A autoestima se refere ao quanto nos valorizamos e nos vemos com bons olhos. Entre os universitários que questionou em sua pesquisa, apareceram avaliações de quem se sentia “muito valioso”, o que, no entender da psicóloga, poderia descambar em competição e narcisismo.

Assim, enquanto a autoestima pode ser um sentimento vinculado à percepção de terceiros, capaz inclusive de acarretar agressões e ameaças, a autocompaixão seria uma maneira de escapar desses problemas. Neff criou parâmetros a serem avaliados na pesquisa com os universitários, numa escala de 1 (quase nunca) a 5 (quase sempre):

Tento ser gentil comigo mesmo ao sentir uma dor emocional (1); tento ver minhas falhas como parte da condição humana (2); tento ter uma visão equilibrada quando algo doloroso ocorre (3); desaprovo e julgo minhas deficiências (4); tendo a me sentir mais isolado do mundo quando penso em minhas deficiências (5); tendo a achar que está tudo errado quando estou deprimido (6).

Quanto mais a pessoa concordava com as três primeiras afirmações e quanto menos concordava com as demais, maior seria a sua autocompaixão.

 

MENOS MALES FÍSICOS E MAIS PROATIVIDADE

Estudos posterior ao de Neff tiveram resultados semelhantes. Um deles indicou que aqueles que sentem autocompaixão costumam sofrer menos males como dor nas costas, dor de cabeça, náusea e problemas respiratórios, que poderiam estar relacionados a estresse. A autocompaixão também diminuiria a incidência das inflamações. E motivaria mais atenção ao corpo, com a adoção de uma dieta mais saudável e de uma rotina de exercícios físicos.

Ao estudar a ligação entre autocompaixão e comportamentos saudáveis, a psicóloga Sara Dunne, da Universidade de Derby, no Reino Unido, concluiu: “Pessoas com níveis mais altos de autocompaixão geralmente são mais proativas.”

Para quem relaciona autocompaixão a preguiça e pouca força de vontade, Neff recorre a uma pesquisa de 2012 que contradiz isso. O estudo constatou que quem tem mais autocompaixão é mais motivado a consertar os próprios erros, a trabalhar com mais empenho depois de errar e a buscar compensações para eventuais transgressões morais. A autocompaixão geraria, portanto, mais segurança para enfrentar fraquezas e dificuldades.

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