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E aí, homens? Quem seremos?

Tive o prazer de participar de uma Live do R.evolution Club, no dia dos namorados, com Luiza Figueira de Mello, carioca R.evolucionária, o escritor Marcos Eduardo Neves, que dispensa apresentações e já convoco para o debate aqui, e a minha doce esposa Amanda Estefan, instrutora de meditação, um dos três pilares da minha busca por adequação do masculino ao feminino – os outros dois são minha mãe e minha filha. A partir desses pilares vou sendo guiado, e sigo guiando meu masculino ao encontro que busca proximidade equalizada do masculino com o feminino que se apresenta hoje para nós.

Desse bate-papo surgiu uma questão bem bacana. Tratávamos da necessidade intransponível do surgimento de um “novo” homem, um tal de “masculino saudável”, adaptado às novas exigências da mulher, um feminino moderno, integrado à sociedade de forma justa e equilibrada.

Lembro que o Marcos nos trouxe a poesia de Pepeu Gomes: “Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino” (“Masculino e feminino”, 1983), que ilustra o óbvio para os homens que ainda possuem dúvidas de suas funções no mundo. Vejam, queridos homens, com exceção de gerar um(a) filho(a), menstruar e amamentar, o que mais houver para se fazer no mundo pode e deve ser função do homem e da mulher, e não “coisa de mulher” e “coisa de homem”, como tantas gerações cresceram ouvindo e, infelizmente, ainda se ouve por aí.

Mulheres e homens são diferentes mesmo. E isso deve ser observado, entendido, apreendido e respeitado, sempre em busca do equilíbrio. Não tem como serem iguais, não serão.

Por isso ainda não sei o que seremos e pergunto: Quem seremos?

O objetivo é gerar homens conscientes, que se integrem à causa das mulheres, gerando ecos de reflexão, mais respostas e adequação sobre seu lugar e o lugar da mulher, principalmente ao compartilhá-lo.

As mulheres, assim como os negros, a diversidade de gêneros e todas as demais minorias, partiram de trás, tiveram que pular no trem que já havia saído da estação, pilhado de homens, brancos, ocupantes de um espaço não destinado a todas essas minorias. E parece que os homens ainda não entenderam que a questão não é perder o lugar que ocupavam, é saber compartilhá-lo e, principalmente, saber cedê-lo. E isso só ocorrerá quando tomarmos conhecimento e aceitarmos que ocupamos espaço demais, que senta um no espaço de dois, três, às vezes de milhões de tantos outros e outras esquecidos.

Na mulher está a base para o amor. A mulher gera a vida, olha isso, meu irmão! Sem elas nem aqui estaríamos! E vejam, se assim foi determinado na biologia da mulher, por óbvio são elas que inicialmente cuidam e ensinam a cuidar. E cuidar está na essência do que é amar.

E mais, sabem o que elas cobraram todos esses anos por isso? Nada! E num agora não tão recente, já anterior a Simones, Joanas, Virgínias, Clarices, Leilas, Nísias, Pagus, Laudelinas e tantas e tantas outras, o que as mulheres estão exigindo sem nem mais um dia de atraso é respeito! E na base desse respeito está toda a igualdade e a falta de espaço que o desrespeito lhes causou até então.

Por isso, ao meu ver, o homem feminino não classifica esse “novo” homem, nem identifica a “nova” mulher.  Percebam, quando um homem lava roupa, louça, troca fralda do filho, apenas para nos valermos de tarefas do lar, e por essas ações é classificado como “homem feminino”, penso que estaríamos confirmando que estas seriam tarefas da mulher e, com certeza, isso não traria o ensinamento que o homem precisa nem o respeito que lhes é imposto pela mulher.

Permitam-me trazer um trecho do livro Para educar crianças feministas – um manifesto, da brilhante Chimamanda Ngozi Adiche, que é: “Saber cozinhar não é algo que vem pré-instalado na vagina. Cozinhar se aprende. Cozinhar – o serviço doméstico em geral – é uma habilidade que se adquire na vida, e que teoricamente homens e mulheres deveriam ter.”

Essa feliz assertiva da autora ilustra o quanto devemos estar atentos a todos os detalhes na adequação do “novo” homem à “nova” mulher, e as aspas aqui servem para deixar vivo o manifesto de que não deveria existir um novo homem nem uma nova mulher, e sim um homem e uma mulher, adequados ao novo mundo.

E espero que esse novo no mundo de hoje sirva apenas para mantê-lo bem longe das tradições de um mundo de ontem, até que esse mundo de hoje deixe de ser novo e passe a ser apenas mundo, onde mulheres e homens sejam compreendidos em suas diferenças, admirados e respeitados por elas, onde tudo caberá a todas e todos e não tenhamos que violentar uns aos outros pela busca do espaço justo, assim como anda acontecendo, por exemplo, com a língua portuguesa, vítima também da desigualdade misógina de outrora, não erradicada, nos impondo a difícil tarefa de tentar pronunciar fonemas inexistentes, como “todox”, como uma palavra nova, de um mundo novo, quando deveria ser apenas mundo onde nenhuma palavra tenha o poder de depreciar um ser diante de outro ou outra.

E aí, homens? Quem seremos?

Tenho a esperança de que sejamos apenas homens, e que aí já estejam embutidos o respeito, o feminino, o masculino, o saudável, o justo, o equilibrado, o amoroso, o fraterno, o belo e tantos outros adjetivos que há muito já parecem estar incorporados às mulheres.

Artur Vieira é sexólogo e terapeuta de casais.

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