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Por uma relação mais saudável com as redes sociais

Posto, logo existo. Esta é a lógica da maioria de jovens pacientes da psicanalista carioca Zoé de Freitas. “Todos eles têm Instagram, Twitter, Facebook. E entram ali todos os dias. Postam, leem, mesmo os mais atentos e conscientes, que têm uma noção de o quanto as redes sociais são viciantes”, diz ela ao R.evolution Club.

Freitas atribui esse comportamento a uma sensação de invisibilidade e exclusão, agora intensificada pela crise do coronavírus. “É uma questão bem delicada. Por um lado, é um ponto de encontro. Por outro, um reforço do narcisismo, de um mundo imaginário”, analisa.

A psicanalista relata que os jovens chegam a estabelecer pactos com eles mesmos para fazer um intervalo de um dia, uma semana ou até um mês no acesso às redes. “Mas eles acabam retornando, também por não conseguirem encontrar as pessoas, comunicar-se, o que se agravou com a pandemia.”

Para ajudar seus pacientes a lidar com as redes de forma saudável, Freitas sugere soluções simples. “Começa pela consciência de o quanto elas hipnotizam, viciam e, de alguma forma, lhe tiram da vida real e lhe colocam em uma vida completamente imaginária”, ensina.

O passo seguinte é aprender a dosar a relação com as redes sociais. “Não precisa colocar ali todos os seus segredos, tudo o que acontece no seu dia a dia. Quando precisar falar algo com alguém, dirija-se a esse alguém, telefone, fale, em vez de postar nas redes”, recomenda.

Especialista em terapia estratégica rápida e ela própria usuária desse tipo de mídia, a psicóloga sanitária espanhola Belén Medialdea afirmou ao El País que as redes sociais foram criadas para explorar a vulnerabilidade humana, sobretudo dos jovens. “Elas nos viciam porque todas atendem a uma das necessidades básicas do ser humano, de desenvolver um senso de pertencimento”, explicou.

 

INSTAGRAM ENTRE OS MAIS NOCIVOS

Segundo Medialdea, tudo começou com o botão “curtir” do Facebook, copiado pela maioria das redes. “O clique se conecta diretamente ao sistema de gratificação do nosso cérebro, assim como qualquer substância aditiva”, disse a psicóloga. “O retorno positivo leva nosso cérebro a liberar endorfinas, então associamos o reforço positivo às sensações agradáveis que sentimos ao receber esse estímulo, que, por sua vez, se torna viciante.”

Com isso, mecanismos como WhatsApp, Instagram, Twitter, Snapchat e Facebook passaram a dar continuidade à nossa vida real. Conforme Medialdea, os usuários de 16 a 38 anos são os mais propensos a se viciar nessas redes, principalmente os adolescentes. Eles estão sempre buscando o que é novo, procurando emoções fortes, gratificação imediata. E têm dificuldade de lidar com a frustração e baixa autoestima.

Uma pesquisa da Royal Society for Public Health – parceria do Reino Unido com o Movimento Saúde Jovem – aferiu que o Instagram é uma das redes mais nocivas do planeta, por afetar o sono, a percepção da realidade e a autoimagem.

Em depoimento ao Tarobá News, o escritor Fabiano de Abreu, um estudioso do assunto, comparou as redes sociais a uma encenação “onde a ostentação e a venda de uma vida perfeita levam à manipulação dos usuários”.

“As redes sociais engoliram de vez a mídia televisiva, e a tendência é que engulam as pessoas também, em especial pela característica de controle e influência onde modas temporárias de vestimenta, consumo e comportamento se tornam referência mundial rapidamente”, disse Abreu.

Diante dessa multidão fragilizada pelas redes, quem determina os padrões que serão seguidos por todos são os gestores das plataformas digitais e da mídia em geral, afirmou o escritor. “Eles são os responsáveis pelo que será consumido pela grande massa.”

Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia. 

 

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