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Renovando a própria vida e a do planeta

Chegamos a 2021 depois de vivermos o ano mais estranho de nossas vidas. A pandemia nos trouxe impensável realidade, obrigando-nos a mudanças de hábitos e cuidados com o próximo até então inimagináveis, pelo menos em sociedades respeitosas com seus cidadãos. Mas trouxe oportunidades também.

É como se o vírus servisse para dar um freio de arrumação no planeta, jogando luz sobre questões básicas que a velocidade da tecnologia e a correria do dia a dia nos impediam de ver. Faz tempo que trabalhamos (ou trabalhávamos) no automático.

Valores, solidariedade, empatia, felicidade, temas caros à humanidade, foram perdendo espaço para uma agenda egoísta e consumista ao longo de décadas. Não nos demos conta das mudanças. Perdemos, com a mesma velocidade da informação, a simplicidade do bem viver. Substituímos o sentir, tocar, olhar, por telas frias e impessoais, muitas vezes falsas, de computadores.

Apesar de vários estudos comprovarem uma concentração de riqueza ainda maior no decorrer de 2020, o que comprova o egoísmo terráqueo, a pandemia também nos proporcionou enxergar que a Terra é una, a casa de todos, mas também extremamente desigual.

Para os afortunados e ousados, uma oportunidade de entender que a vida é simples, única e o tempo não para. Nunca.

Foi assim com o jornalista espanhol Davi Martínez, que em 2017 resolveu largar tudo e voltar às origens para pastorear ovelhas em um dos lugares mais inóspitos da Espanha: La Siberia.

Nascido em Barcelona, ele passou oito meses em um abrigo sem eletricidade ou água quente, tendo como companhia apenas a cadela Síria. O resultado dessa experiência ele conta em seu mais recente livro, Un Cambio de Verdad, sobre o qual falou à BBC.

Martinez foi atrás de histórias que o fizessem compreender a mudança climática. “Precisamos ter uma ‘grande conversa’, entre homem e natureza”, diz ele. “Nos termos certos, isso pode trazer resultados benéficos para os humanos e seu meio ambiente.”

A vida nas cidades e no campo também é abordada pelo jornalista. Ele diz que nas cidades estamos tão confinados fisicamente que não podemos admirar e compreender a magnitude total do ser humano com outros seres vivos. E no campo estamos em contato diário com o ciclo da vida.

Colocar sonhos em movimento talvez tenha sido um dos aspectos positivos da pandemia e a explicação para o boom de novas experiências familiares em pequenas cidades do interior, aqui e no exterior. Com várias restrições de mobilidade mundo afora, muitas empresas optaram pelo home office, que, parece, veio para ficar. A necessidade de confinamento fez acender a chama da coragem e dar aquele empurrãozinho mágico para o passo inicial. E amarras, como segurança e família, que inibiam a tomada de decisões mais arrojadas, foram desfeitas.

Mas não é só. A conexão das experiências vividas por Martinez e aqueles que saíram em busca de uma nova vida por conta da pandemia pode iniciar, mesmo de maneira embrionária, o resgate de um desequilíbrio histórico entre as vidas no campo e urbana. Fazer-nos entender que esperar a velhice chegar para só aí gozar a vida pode ser tarde demais.

Enquanto isso, cresce o movimento “sejamos felizes em nossos pequenos mundinhos”. Eu, aqui nas montanhas mágicas de Visconde de Mauá, Serra da Mantiqueira, na cadência das brisas vespertinas e seus cinquenta tons de verde, continuo deixando a vida me levar, dormindo ao som dos pássaros, ouvindo o barulho do silêncio que o rio Santa Clara faz ao passar rumo a seu encontro com o rio Preto, torcendo apenas para amanhã ser ainda mais bonito que hoje. E você?

Odilon de Barros é proprietário da estalagem Terra Mauá, em Visconde de Mauá (RJ-MG).

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