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Somos únicos, mas complementares

Eu já a tinha visto. Ela, não. Quando finalmente me aproximei, achei que a conquistaria. Puro engano. Ela me conquistou. No exato instante em que a tive, ela me teve. Para sempre.

Hoje escrevo porque senti falta. Ela esteve longe. Dos olhos, não do coração. Ela esteve perto. Da mente, não do meu corpo. Mesmo ausente, ela é presente. É um presente. Ela sou eu.

Muitos se relacionam por diversos fatores. Paixão, fogo, companheirismo, conveniência, status, soma de economias, paro por aqui senão você desiste de me seguir lendo. Nós nos relacionamos, primeiramente, pela falta que cada um traz consigo. Depois, pelo preenchimento que a presença do outro trouxe.

Decidi acreditar na vida a dois novamente porque, de certa forma, me vi nela. E depois de tanto tempo, confesso, sigo a me ver.

Houve encontro de almas. Os corpos envelhecerão, mas as almas rejuvenescem. No cuidar diário. Na atenção. No carinho. No afago. No ombro amigo, nos piores momentos. No beijo caloroso, nas grandes vitórias. No pensar junto soluções. No divergir separados, porque cada um é cada um.

Somos iguais, mas diferentes. Somos únicos, mas complementares.

Há entre nós um quê de telepatia. Sintonia profunda. Quando um pensa, o outro descobre. Se um tem dúvida, o outro traz a certeza. Nos nossos encontros, em primeiro lugar, os olhos brilham. A parte amputada se acopla. Em seguida, a aura explode. O tempo não, mas o mundo para.

Ela não é a mais linda de todas. Não tem o corpo mais perfeito. Não é a mais inteligente. Não é a mais bem-sucedida. Não é a melhor dona de casa. Não é nada disso. A única coisa que ela é, que eu tenho certeza, é que ela é perfeita. Para mim.

Seus cabelos, seu olhar, seu jeito de falar, seu cheiro, sua pele, suas curvas, seu carinho, tudo perfeito. No olhar dela, me transformo. Deixo de ser esse sujeito comum, cheio de defeitos, para ser o mesmo sujeito comum, cheio de defeitos, só que pouco me importando em agradar aqueles com os quais me relaciono, mas que não são ela. Os que não me relaciono como com ela. Os que não me conhecem por dentro, mas apenas pelo que as aparências ou conhecimentos rasos fazem pensar que eu sou.

E nisso, vamos dia após dia nos reconhecendo. Nos conhecendo. A ela e a mim. Vamos discutir, conversar, vamos brigar, fazer as pazes, vamos vibrar e vamos chorar. Vamos sofrer, mas vamos amar. Vai ser difícil a despedida, e antológico o reencontro.

Sem ela eu não vivo. Melhor, até vivo. Morto por dentro.

Marcos Eduardo Neves é jornalista, publisher da Approach Editora e escritor, autor de Nunca houve um homem como Heleno (Zahar).

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