A meditação é uma prática eficiente e simples para combater a ansiedade, uma das queixas predominantes na quarentena do novo coronavírus. Quem explica isso ao Revolution Club é a monja Tenzin Nandro, diretora do Centro Shiwa Lha, no Rio de Janeiro – Tenzin é como um sobrenome que designa os seguidores do Dalai Lama, e Nandro significa libertar a si e a todos.
Meditação em tibetano é gom, ou familiarizar-se com a virtude – e não com a negatividade. Não é uma atitude passiva, como se poderia pensar, mas sim uma ação. “Nossa mente é pura como um diamante, vasta e limpa como o céu azul”, afirma Nandro. “Ela é envolvida por nossas emoções perturbadoras, como raiva, ciúme, inveja, ignorância, medo e pânico.” A ação é o ato de faxinar essas emoções, o que requer reconhecê-las e identificar a forma como atuam.
Um dos processos para isso é sermos nossos próprios observadores, propõe a monja. “Percebemos como uma emoção surge e, o mais importante, conquistamos nosso próprio controle, somos nosso próprio terapeuta. A gente reconhece, observa, cria distância e se questiona: esse pensamento ou emoção me servem? A meditação é fazer nosso próprio contato, entender como tudo surge antes de agir.”
Você pode acompanhar meditações remotas pelo site do Centro Shiwa Lha ou pode se sentar com as pernas cruzadas sobre uma almofada – coluna ereta, mãos repousadas sobre as pernas – e dar início à prática. Você foca a atenção na respiração, no movimento de inspiração e expiração abdominal, toma consciência e traz de volta a atenção à respiração se algum pensamento surgir. Com disciplina, dez minutos diários desta prática seriam suficientes para acalmar a mente.
APLICAÇÃO NA VIDA DIÁRIA
Esse é um método eficaz para estabilizar a mente, mas você pode aplicar a atenção plena a sua rotina. “O importante é levar isso para o dia a dia, que funciona exatamente da mesma forma”, diz Nandro. “Se você está fazendo um trabalho e, de repente, pensa no banco, no compromisso de amanhã, é isso que gera ansiedade. Então, volta o foco ao trabalho, como no treino da meditação”, ensina ela. “É difícil, porque tudo atropela, o telefone toca, mas, assim como na meditação formal, é voltar ao objetivo principal. Só isso relaxa, cria liberdade.”
O objetivo da meditação, segundo a monja, é praticar a liberdade, tirar uma espécie de férias, sentir alívio. “Não preciso do que passou e nem do que está por vir, o que ajuda a controlar a ansiedade. Vem a sensação de que você pode decidir e permitir que as coisas surjam, seja no treino ou na vida diária, até porque não podemos mudar o externo, parar o mundo. A diferença é observar e dar prioridade ao que é de fato importante.”
É possível avançar nesse processo. Nesse caso, é preciso alguma orientação para praticar o que Nandro chama de meditação analítica. “Ela quebra a crença de que meditação se restringe a não pensar e esvaziar a mente. Só que a estabilidade da mente não é tudo, é preciso entrar na realidade para não continuarmos a gerar angústia e sofrimento.” O que a monja chama de realidade é a consciência da impermanência, de que as coisas quebram, as pessoas mudam, envelhecem e morrem. E perceber que somos todos iguais, porque todos buscamos a mesma coisa: a felicidade e o fim do sofrimento.