O QUE VOCÊ PROCURA?

Vivendo uma experiência saudável de consumo consciente

Conversando certa vez com a amiga Patrícia Carvalho, especialista em ervas e cultivos orgânicos e, assim como eu, moradora de Visconde de Mauá, no sul do estado do Rio, ela me falou sobre uma iniciativa observada em alguns lugares no Brasil, e que sonhava em implementar aqui na região, junto com amigos produtores. Na época, fiquei curiosa. Trata-se da Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), uma organização sem fins lucrativos que elabora projetos agrícolas baseados na comunidade. Agricultores locais participam e garantem um futuro a seus pequenos empreendimentos.

A CSA representa um modelo de desenvolvimento agrário sustentável e alternativo de agricultura e distribuição de alimentos. O escoamento de produtos orgânicos é feito diretamente para o consumidor, criando uma relação direta e próxima entre quem produz e quem consome.

Patrícia tornou-se uma das produtoras e coordenadoras do CSA Visconde de Mauá, ao qual me juntei como coprodutora e apoiadora, por entender que é uma iniciativa inovadora, necessária e que traz um tremendo diferencial por envolver de forma direta a comunidade.

Cada apoiador paga uma cota mensal fixa por um período de seis meses a um ano. Em troca, recebe semanalmente uma cesta de produtos orgânicos, cuja variedade depende da oferta da época e da estrutura de produção dos agricultores envolvidos. Trata-se de um modelo de economia associativa, em que o agricultor orgânico vende diretamente seus produtos para o consumidor, sem se submeter a intermediários e às variações de preço do mercado, e estimulando o comércio justo.

 

ALIMENTOS MAIS RICOS EM NUTRIENTES

Percebi que o coagricultor/coprodutor/apoiador se transforma em um colaborador para o desenvolvimento sustentável de sua região. Ele valoriza a produção local, conhece de perto a origem de seu alimento e participa de iniciativas para agregar a comunidade.

A garantia de consumir produtos orgânicos e de agricultura ecológica já é um enorme diferencial. Na produção convencional, os nutrientes são depositados no pé da planta. Em geral, são carregados de agrotóxicos. Na produção de orgânicos, eles estão distribuídos no solo. O esforço que as plantas fazem para obter os nutrientes torna esse alimento mais forte, rico e benéfico ao organismo e, por ter um crescimento mais lento e natural, ele também tem um sabor melhor.

A CSA é uma oportunidade viável para quem deseja consumir um alimento mais puro e de maior qualidade, priorizando a saúde. Sabemos que produtos sem agrotóxicos protegem o organismo contra processos de inflamação e oxidação, evitando doenças. Hipócrates já dizia: “Que o teu alimento seja o teu remédio e o que o teu remédio seja o teu alimento.”

É também uma oportunidade de ter uma vida mais sustentável, com mais respeito ao meio ambiente. Cada vez que consumimos algo, estamos gerando algum impacto sobre o planeta. Mas podemos optar por gerar menos impacto quando passamos a valorizar os produtores locais. Adotamos um consumo mais consciente.

 

IDEIA TEM ORIGEM NO JAPÃO

O censo agropecuário de 2017, do IBGE, indica que a agricultura familiar é responsável por empregar 10,1 milhões de pessoas e corresponde a 23% da área de todos os estabelecimentos agropecuários. Esses pequenos agricultores são responsáveis por produzir cerca de 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 60% da produção de leite e 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos. A maior parte dos alimentos é produzida por camponeses. A agricultura familiar é responsável pela maioria dos alimentos que chega à mesa dos brasileiros. Contudo, os desafios desses pequenos agricultores são imensos. Eles têm acesso a apenas 14% do financiamento disponível à agricultura e se concentram em apenas 23% das terras cultiváveis no país. A imensa maioria não tem acesso a recursos de órgãos públicos.

A sociedade entre produtor e consumidor é o maior propósito da CSA Brasil: trocar a cultura do preço pela cultura do apreço. A ideia nasceu no Japão, na década de 1970: como resultado do desastre de contaminação por mercúrio na baía de Minamata, um grupo de donas de casa local começou a comprar alimentos diretamente de agricultores orgânicos. Nos últimos anos, o conceito despertou interesse no âmbito de desenvolvimento regional, alimentar e de agricultura orgânica. A CSA Brasil teve início em 2011, com a meta de proteger pequenas estruturas agrícolas por meio da formação de sítios da CSA em diferentes localidades. Hoje, o projeto existe em vários estados.

Sinto que o melhor caminho é nos aproximarmos cada vez mais de um mundo mais natural, mais autêntico, mais humano. E essa relação solidária entre produtor e consumidor por meio da CSA nos traz uma oportunidade única, uma convivência mais próxima, mais cheia de sentido. Além disso, é uma forma de socorrer uma agricultura fundamental para nossa existência.

Márcia Santana é pós-graduanda em administração de empresas. 

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