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Clínica abre caminho para uso terapêutico de cannabis

A autorização federal para a comercialização de canabinoides em farmácias brasileiras foi um incentivo para que os médicos Guilherme Cardoso e Beatriz Sampaio abrissem em Salvador a primeira clínica popular do Brasil dedicada ao atendimento terapêutico com substâncias extraídas da cannabis sativa. O objetivo da clínica Dra. Sativa é oferecer  tratamentos a preços mais acessíveis.

Em 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passou a permitir a comercialização de medicamentos com canabidiol (CBD) e tetraiodrocanabinol (THC), substâncias provenientes da cannabis e utilizadas no tratamento de males como epilepsia, doença de Alzheimer, Parkinson e câncer. Como o plantio de maconha segue proibido no Brasil, os medicamentos são importados e, portanto, caros.

A clínica oferece consultas a partir de R$ 200 ou pro bono para pacientes mais vulneráveis. Em depoimento à Forbes, Cardoso afirmou que fornecedores nacionais e internacionais vendem os medicamentos por preços que vão de R$ 300 a R$ 2 mil, enquanto o valor de consultas médicas com o tratamento iria de R$ 500 a R$ 1 mil.

“O valor que a população consegue arcar, em média, é de até R$ 300. É nesse preço que nos baseamos aqui”, afirmou o médico. Ele explicou que o atendimento na clínica começa com uma consulta para entendimento do caso; segue com uma consulta em que é apresentado um diagnóstico feito por uma equipe médica interdisciplinar; e continua com um acompanhamento mensal do paciente.

 

REVOLUÇÃO NA MEDICINA COMO FOI A PENICILINA

Segundo Cardoso, o acompanhamento mensal permite identificar a dosagem correta e orientar o paciente sobre condições de armazenamento e possíveis efeitos colaterais. “Nós acreditamos que o uso medicinal da cannabis é uma nova revolução na medicina, assim como a penicilina foi há décadas”, disse ele.

Os dois médicos à frente da clínica se conheceram em 2015, durante uma residência médica na Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto. Ambos pesquisavam novas tecnologias para tratamento de Alzheimer e se interessaram pelo sistema endocanabinoide. “A gente não aprende sobre isso na faculdade. Tem o sistema endócrino, cardiovascular, mas nunca se fala do endocanabinoide”, afirmou Cardoso.

Ao El País, o médico disse que nessa época surgiu a vontade de “criar um centro popular de atendimento de excelência em cannabis medicinal, justamente porque o acesso é muito difícil no Brasil”. Ele acrescentou que “falta acesso até mesmo a informações científicas para os médicos”. E lamentou o atraso do Brasil em relação a muitos países onde o uso medicinal de substratos da maconha é regulamentado.

 

CIÊNCIA MILENAR COM POTENCIAL TERAPÊUTICO

A Dra. Sativa pretende atender a pessoas fora de Salvador, valendo-se de telemedicina. Reúne especialistas em áreas como neurologia, nutrologia, radiologia, psicologia e pediatria. Com isso, busca diagnósticos mais precisos e tratamentos mais direcionados. Cardoso tem formação em biomedicina e especialização em psicoterapia. Sampaio é especializada em nutrologia e medicina da família.

Em seu site, a clínica afirma: “Nós acreditamos que ter saúde e qualidade de vida é fundamental nos dias de hoje e que o acesso ao bem-estar precisa ser prioritário para todas as famílias. Estamos falando de uma ciência de conhecimento milenar com alto potencial terapêutico e que foi disseminada e preservada pelas sociedades humanas. Cada vez mais evidências científicas mostram que a terapia canabinoide se torna uma ferramenta terapêutica acessível e segura.”

No início de junho, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que legaliza o cultivo de maconha para fins medicinais e industriais. O projeto deverá ir a plenário e, se aprovado, será encaminhado ao Senado. Em 2015, a Anvisa retirou o canabidiol da lista de medicamentos proibidos no Brasil.

Magno Karl, diretor executivo do Instituto Livres, que defende a  legalização da maconha medicinal no Brasil, disse ao El País que obstáculos políticos e jurídicos dificultam o acesso de famílias que precisam desse tratamento e ainda impedem o país de entrar num mercado bilionário.

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