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A comida moderna exposta: somos o que comemos

A fonte de exposição a substâncias químicas com a qual temos mais contato é nossa comida. A comida é um dos bens mais importantes para qualquer organismo vivo, mas os humanos levam isso a outro patamar. Nossas vidas giram em torno da comida. Celebramos com ela, enfrentamos o luto com ela. Muitas pessoas passam seus momentos mais importantes na companhia de amigos e de parentes ao redor da mesa, comendo e bebendo. A comida fornece materiais para a construção de nosso corpo. A comida nos constrói.

A comida determina muitos aspectos de nossas vidas, e estes aspectos mudam com o passar do tempo. No princípio, os humanos se agrupavam em torno de fontes abundantes de comida e de água. Estes locais se transformavam em aldeias, vilarejos, cidades. Os mapas das primeiras civilizações eram desenhados com garfos.

Antes, retirávamos nossos alimentos de árvores, do solo, das margens de rios; nós os caçávamos e os pescávamos. Comíamos quando era possível. A comida estragava sem geladeiras. O sistema de alimentação moderno em poucas décadas mudou profundamente a maneira como obtemos – ou não obtemos – nossos nutrientes.

Agora compramos comida em supermercados. Ela vem repleta de substâncias químicas que, sozinhas ou em conjunto, podem causar doenças. 90% dos produtos alimentícios em nossos supermercados vêm em algum tipo embalagem. Para estender sua vida útil fora da geladeira, estes produtos estão cheios de conservantes – substâncias químicas que destroem bactérias. A maioria dos produtos também contém substâncias adicionais que lhes dão aromas, cores, sabores e texturas, para torná-los mais atraentes e para que sejamos tentados a comprá-los e a comê-los. Os 10% restantes de itens alimentícios em supermercados – verduras, peixes, carnes e laticínios – também precisam passar por uma série de processos antinaturais. O segmento nutricional da toxicidade global possui um lado ainda mais sombrio. Todos os dias surgem histórias sobre fontes de contaminação de alimentos em nossos supermercados e em cadeias de fast-food. Ouvimos acerca de epidemias de bactérias potencialmente letais e do recolhimento em escala nacional de carnes e vegetais, acontecimentos diretamente ligados à maneira intensiva com que produzimos nossa comida. (Isso levou ao processo de expor ainda mais comida à radiação – o que rouba o valor nutritivo de seu espinafre embalado e deixa você com apenas algumas folhas murchas). Recentemente, uma unidade de piscicultura foi multada e empreendeu-se o recolhimento de sua produção após a descoberta de que os peixes eram alimentados com comida de cachorro retirada do mercado. Pense nisso: o que não foi considerado bom para seu cachorro comer acaba se tornando um dos blocos de formação que constroem você – e a custos muito maiores do que os de comida de cachorro. Quando se torna mais seguro comer a comida de seu cão do que o peixe que todos os especialistas em saúde aconselham você a consumir, conclui-se que há certa loucura nesta busca por diminuição de custos de produção e por conveniência. Loucura tal que, se não a detivermos, pode acabar pondo todos nós no hospital (e você já viu a comida que eles servem por lá?).

Por isso, uma das melhores maneiras de diminuir sua exposição a substâncias tóxicas e de aumentar o conteúdo nutritivo de sua alimentação é gastar um pouco mais em comida de origem segura – quando possível, compre alimentos frescos de fontes locais. Alimentos importados precisam ser transportados e, neste caminho, que vai do campo, da fazenda ou do mar até seu prato, sua comida é exposta a uma combinação de substâncias químicas que incluem fertilizantes, pesticidas e inseticidas (para matar os insetos que também competem pelo alimento), hormônios (para os animais engordarem mais rápido ou produzirem mais leite) e antibióticos (para impedir que os animais com sistemas imunológicos fracos se infectem). Ela passa por processos invisíveis como a radiação (raios X para eliminar bactérias, que também matam nutrientes), pasteurização (calor extremo para matar agentes patogênicos – e também enzimas valiosas), hidrogenação (a alternância entre gorduras e óleos para aumentar a vida útil dos alimentos na prateleira, condição essa que prejudica suas próprias células) e até mesmo procedimentos cosméticos como enceramento (para melhorar o aspecto das frutas no mercado).

Os processos tecnológicos usados atualmente por questões de “segurança”, de cosmética, de produtividade ou de conveniência transformam em veneno uma boa parte de nossa comida. Com o raciocínio de que “se é bom para o bebê, então também deve ser bom para nós”, começamos a tomar leite e a usá-lo no preparo de centenas de outras comidas. Somos os únicos mamíferos que continuam ingerindo leite após o período de amamentação. E vamos além: roubamos o leite de outras espécies. É como pôr combustível para avião numa motocicleta; danifica o motor. Pior, agora que nosso leite vem cheio de antibióticos e de hormônios, um argumento questionável torna-se inegável: o leite está nos envenenando.

Minha própria história – de chegar à cultura do supermercado norte-americana e adoecer – não é uma exceção. Na verdade, antropólogos demonstram como isso aconteceu muitas vezes em toda parte. Estudos científicos mostram que quando imigrantes trocam suas dietas tradicionais, cheias de vegetais colhidos do campo (em que o solo ainda é repleto de nutrientes) e de proteína animal de criação caseira, pela dieta norte-americana, cheia de açúcares, de alimentos processados e de bebidas químicas, suas taxas de obesidade, diabetes e cardiopatia aumentam de maneira excepcionalmente rápida, e em apenas uma geração.

Muitos pacientes ficam surpresos quando digo que algumas das substâncias químicas tóxicas mais comuns são os alimentos ingeridos diariamente. Trigo, laticínios, ovos, milho e soja são causadores de alergia num grande número de pessoas. Isso se dá em parte pelo modo como estas comidas são produzidas hoje em dia, com substâncias químicas e muitos pesticidas, mas também porque o aparelho digestório humano não evoluiu a ponto de processá-las em quantidades maciças. Lidar com grandes quantidades destes alimentos não fazia parte de nosso design original. A água é outra fonte de intoxicação hoje em dia.

A água que sai de nossa torneira é tratada com cloro para matar instantaneamente organismos microscópicos – o que significa que, em caso de organismos maiores como os seres humanos, o dano só demora um pouco mais. O flúor é acrescentado a muitos sistemas públicos de água para fortalecer os dentes – trata-se, porém, de uma toxina agora associada a problemas na tireoide, nos rins, no sistema nervoso central e no sistema ósseo, incluindo tumores (sem falar em QIs menores).

Mas há muito mais do que isso na água que consumimos. Carcinógenos (compostos que provocam câncer) provenientes de toxinas industriais no ar e de emissões de outros depósitos de dejetos no mundo moderno sobrevivem às estações de tratamento de água em quantidades detectáveis e vão parar em nossa água da torneira. A ingestão de resíduos provocados pela desinfecção de água é um perigo recentemente identificado, que toma forma quando as substâncias químicas usadas para desinfetar nossa água potável reagem com materiais naturais orgânicos na fonte. E nossa água nos medica ainda mais. Um recente estudo mostrou que 41 milhões de norte-americanos bebem água contaminada com antidepressivos, hormônios, medicamentos cardíacos e outros remédios controlados ou não, que resistiram ao sistema de tratamento de água. Não é só na cozinha. Nós absorvemos mais água pela pele, durante os banhos, do que ao bebê-la, o que pode tornar ainda mais pesado o fardo tóxico.

Também nos distanciamos de maneiras mais simples e naturais de embalar nossos alimentos. Em vez de comprar na feira ou no açougue alimentos crus que então embalamos em papel ou que carregamos em nossa cesta, compramos comidas que vêm embaladas em plástico. Isso pode introduzir substâncias químicas em nosso alimento. Estas embalagens incluem compostos químicos chamados ftalatos, uma das substâncias químicas produzidas em maior abundância hoje em dia, criada para dar rigidez a certos plásticos. Embora encontremos ftalatos em diversas formas, eles são especialmente predominantes na água e em garrafas de bebida. E, embora as quantidades encontradas nos alimentos sejam mínimas, seus efeitos são acumulativos. A química dos ftalatos imita a química dos hormônios, que são os agentes mensageiros do corpo. Quando seus níveis aumentam ao longo do tempo, um dos resultados é a disfunção hormonal. Isso pode ser comparado a uma falha no controle aéreo de um aeroporto. Os sinais se misturam, e nosso funcionamento começa a entrar em colapso – sem qualquer causa óbvia. Agora que dois cânceres ligados a questões hormonais, o de mama e o de próstata, encontram-se em rápido crescimento e o número de distúrbios da tireoide está altíssimo, toxicólogos estão apontando o dedo para os ftalatos, entre outras causas tóxicas.

Outra substância química, o estireno, penetra nos alimentos ao ser emitido em forma de gás por recipientes de comida. Um estudo demonstrou que 100% de um grupo testado continham esta substância em sua gordura. Pense em como esta carga vai se acumulando: um bife no supermercado vem numa bandeja de poliestireno embalada com plástico; depois você prepara o bife, o que o torna mais escuro (o escurecimento da comida tem potencial cancerígeno); depois você ainda coloca nele um pouco de molho cheio de aditivos químicos. Que delícia.

Bisfenol A (BPA) é outra substância química usada na fabricação de recipientes de plástico rígido, como garrafas de bebida, e no acabamento de latas de comida. Quando encontrada em determinadas quantidades no corpo, estima-se que provoque câncer.

Substâncias químicas tóxicas são apenas uma das razões pelas quais a ingestão de alimentos – uma prática tão vital para o resto da natureza – tornou-se fatal para nós.

Trecho extraído do livro Clean: remova, recupere, rejuvenesça,
Dr. Alejandro Junger, Réptil Editora, 2014

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