Uma sequência de experiências levou pesquisadores do laboratório da Faculdade de Psicologia da Universidade Autônoma de Barcelona a constatar o poder do neurotransmissor dopamina de aumentar a vontade de viver, o que beneficiaria sobretudo idosos. “É como se essa substância nos motivasse a fazer o necessário para conseguir o bom, o prazer, onde quer que ele esteja”, diz o professor Ignacio Morgado Bernal em artigo para o El País.
Os questionamentos de Bernal sobre a dopamina foram motivados por situações que ele viveu na própria família. Sua bisavó Rosa chegou aos 103 anos sem vontade de viver. Já a tia-avó Felisa, que faleceu aos 102, sempre encontrava ânimo, fosse no copinho de aguardente ou no batizado de um novo membro da família.
“Sempre me perguntei o que haveria no cérebro de cada uma das minhas duas anciãs para abrigar um sentimento tão diferente”, escreve o psicólogo.
Anos depois, ele começou a vislumbrar uma resposta ao acompanhar o comportamento de camundongos que pressionavam uma alavanca na gaiola para acionar um dispositivo que enviava pequenos choques a um eletrodo implantado em seus cérebros. O mecanismo fazia os neurônios de uma região do cérebro das cobaias liberarem dopamina.
Com isso, Bernal e sua equipe supuseram que a dopamina produzia prazer. A hipótese levantou suspeitas depois de um estudo publicado na revista científica Nature indicar que as cobaias continuavam pressionando a alavanca mesmo depois de a dopamina deixar de ser liberada no cérebro. Contudo, experiências recentes trouxeram nova luz às pesquisas.
ESTÍMULO A ATIVIDADES PARA LIBERAR DOPAMINA
Os cientistas constataram que a sensação de prazer não desaparece mesmo quando se reduz a injeção de substâncias no cérebro dos camundongos porque os animais conservam a capacidade de sentir prazer. Suas reações positivas ao sabor doce, por exemplo, permanecem. Mas eles comprovaram também que os camundongos com déficit de dopamina perdem o interesse de pressionar a alavanca e desistem de percorrer labirintos que os levam a sentir prazer com alimentos. Só conseguem recuperar a motivação depois que a dopamina volta a ser administrada.
“Por tudo isso, agora acreditamos que a dopamina, quando liberada no cérebro, aumenta a motivação e o poder de incentivo das coisas agradáveis”, afirma o psicólogo.
Ele explica que o estímulo despertado por novidades, chamado na neurociência de “erro de predição”, é outro efeito provocado pela dopamina. Para o pesquisador, não há dúvida de que o novo é uma presença forte entre os jovens, mas não entre idosos, que tendem a levar vidas mais sedentárias e isoladas, seja por fraqueza ou preguiça.
“É, portanto, muito importante incentivar que os idosos tenham uma vida pessoal e social tão rica e ativa quanto possível, para que seu cérebro libere dopamina e, com isso, aumente e mantenha sua motivação e seu desejo de continuar vivendo bem até em idades avançadas”, analisa o professor.
A motivação provocada pela dopamina, diz ele, também se manifesta no descontrole que leva as pessoas a continuar comendo mesmo depois de saciadas: “Mais do que aguçar o apetite, que já temos, o que parece acontecer com a primeira e contida degustação é uma liberação de dopamina cerebral que aumenta o poder de incentivo dos estímulos relacionados ao prazer.”