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A realidade virtual a serviço da saúde sexual

Novas tecnologias vêm trazendo inovações para o tratamento de transtornos mentais. No caso da realidade virtual, experiências interativas oferecem um potencial que terapeutas começam a explorar para lidar com distúrbios sexuais, em especial a aversão sexual. Imersões em realidade virtual ajudariam a superar medos e ansiedades relacionados à sexualidade.

Em artigo para o site de notícias acadêmicas The Conversation, republicado na BBC, esse campo terapêutico da realidade virtual é analisado por três estudiosos: David Lafortune, professor do departamento de sexologia da Universidade de Quebec, no Canadá; Éliane Dussault, estudante de doutorado em sexologia na mesma instituição; e Valerie Lapointe, aluna de doutorado em psicologia também na Universidade de Quebec.

Segundo eles, os “mundos imersivos e realistas gerados por computador em realidade virtual podem levar a resultados positivos para a saúde sexual, como o aumento do prazer e bem-estar sexual, ao aliviar o sofrimento psicológico em contextos sexuais”.

 

UM MEIO ÉTICO E SEGURO PARA TRATAMENTOS MÉDICOS

Os três especialistas explicam que a aversão sexual se caracteriza pela dificuldade de vivenciar a sexualidade com prazer, seja sozinho ou acompanhado. Para superar essa dificuldade, é preciso mudar pensamentos e reações em situações sexuais e românticas que geram apreensão. É aí que a realidade virtual pode ajudar.

Isso porque a aversão sexual pode ser tratada por meio da exposição controlada a contextos sexuais que geram ansiedade. Aos poucos, essa exposição reduz o medo e a fuga diante de estímulos sexuais, que caracterizam o distúrbio. A realidade virtual se apresenta como um meio ético e seguro a esse processo, que não poderia ser recriado na vida real ou em sessões de terapia.

“A realidade virtual não só permitiria que eles [indivíduos com aversão sexual] superassem os medos, como também aprendessem novas habilidades sexuais para usar em situações do mundo real — habilidades que de outra forma seriam difíceis, senão impossíveis, de desenvolver”, afirmam os três estudiosos.

Eles contam um experimento que fizeram em dezembro de 2020 para comparar indivíduos com e sem aversão sexual. Os participantes entraram num ambiente virtual que simulava uma interação íntima envolvendo um personagem fictício. Esse personagem os expunha a situações de flerte, nudez, masturbação e orgasmo.

 

POSSIBILIDADE DE EXPERIÊNCIAS SEXUAIS POSITIVAS E GRATIFICANTES

Como resultado da simulação, as pessoas com aversão sexual relataram mais repulsa e ansiedade do que aquelas que não apresentavam o distúrbio. Quanto mais explícitas eram as cenas do personagem, maior era o grau de repulsa e ansiedade. Para os pesquisadores, as constatações indicam a realidade virtual como “um caminho promissor para o tratamento da aversão sexual”.

Por meio da realidade virtual, seria possível proporcionar aos pacientes experiências sexuais positivas e gratificantes. Um dos recursos seria usar erobots – bots eróticos – para simular encontros românticos e eróticos. Esses agentes virtuais ajudariam a pessoa a desenvolver habilidades sexuais, a identificar preferências e a se reconectar com sua sexualidade.

Os estudiosos citam um estudo realizado na Holanda segundo o qual a aversão sexual atinge até 30% das pessoas em algum momento da vida. Uma outra pesquisa com 1.993 participantes, realizada no laboratório onde eles trabalham, indicou que pelo menos 6% das mulheres e 3% dos homens haviam sentido aversão sexual nos seis meses anteriores. Os dados foram interpretados como uma indicação de que a aversão sexual é um distúrbio tão comum quanto a depressão e a ansiedade.

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