No início do ano, a professora de ioga britânica Aimee Hartley lançou o livro Breathe Well (Respire bem). Foi com a pandemia do coronavírus, contudo, que suas sugestões de exercícios e outras dicas para uma boa respiração se popularizaram. Em entrevista ao Guardian, ela afirma que uma respiração apropriada pode mudar a vida.
Mesmo sendo especialista em ioga, técnica sustentada na respiração, Aimee conta que só aprendeu a tirar maior proveito da respiração após fazer aulas com um treinador especializado. Foi assim que se tornou treinadora de respiração transformacional, técnica criada nos anos 1970 pela americana Judith Kravitz, visando a transformar emoções negativas em positivas.
Hartley contabiliza que repetimos o ato mecânico e involuntário da respiração 23 mil vezes por dia. Imagine os benefícios que poderíamos ter se tirássemos um maior proveito disso?
Como pregam não apenas os adeptos da ioga, mas também praticantes de meditação e terapeutas, a respiração consciente tem o poder de transportar as pessoas para o aqui e agora. Simplesmente porque acontece no momento presente e, se prestarmos atenção a esse ato, também estaremos no presente e seremos capazes de praticar a atenção plena.
Depois de apreender que o ar deve ser conduzido também à parte inferior dos pulmões, de forma a abrir o abdome, Hartley percebeu que a grande maioria das pessoas respira errado, ou seja, conduz o ar apenas até a parte superior do tórax. Ela diz que os bebês de até 3 anos são uma exceção aos maus hábitos respiratórios, que surgiriam a partir da vida escolar. Além de permanecerem sentadas por muito tempo, as crianças começam a viver na escola emoções estressantes que prejudicam o ato de respirar.
BENEFÍCIOS FÍSICOS E MENTAIS
A respiração é descrita por Richie Bostock, autor de Exhale (Expire), como “a próxima transformação dos hábitos ligados à saúde e ao bem-estar”. Outra obra sobre o tema é The New Science of a Lost Art (A nova ciência de uma arte perdida), de James Nestor. Por que tanto interesse pelo tema? A resposta é simples. Já existe um consenso médico de que a respiração pode melhorar a saúde física e mental. Estimula a imunidade, melhora o sono e a digestão, reduz a pressão arterial e ajuda a controlar a ansiedade e o estresse.
Hartley afirma que a respiração consciente, lenta e profunda estimula o sistema nervoso parassimpático. Segundo ela, isso significa mudar a resposta de “fuga ou luta” do organismo diante de situações difíceis para uma resposta de “descansar e digerir”.
O melhor de tudo é que os exercícios sugeridos por Hartley para ativar a respiração podem ser feitos em qualquer lugar, sem nenhum custo. Criadora do programa Scholl Breathe (Respirar Escola), adotado em escolas, ela propõe inspirar pelo nariz quatro vezes, depois prender a respiração por dois tempos e expirar em seis. E repetir isso várias vezes. Um exercício que pode ser praticado na caminhada diária, ou em qualquer deslocamento a pé, é: inspirar durante cinco passos e expirar também em cinco passos, sempre pelo nariz.
Diante do espectro da Covid-19, que prejudica o sistema respiratório e afeta sobretudo os pulmões, a respiração correta não só cresceu de importância, como ganhou novos contornos, entre os quais se encaixa a necessidade de respirar através das máscaras. Por vezes, é difícil distinguir se a dificuldade de respiração profunda é um sintoma da gripe ou de ansiedade. Hartley observa diferenças em clientes que se recuperam da doença. “Eles dizem que nunca respiraram com tanta consciência”, afirma ela.
O Renascimento é outra técnica de respiração com fins terapêuticos, desenvolvida nos anos 1970 pelo iogue americano Leonard Orr, considerado um guru da Nova Era. Durante sessões de terapia, individuais ou em grupos, as pessoas respiram rápido, profunda e repetidamente até atingirem um estado de consciência alterada. Esse estado lhes permitiria aprofundar o autoconhecimento e superar experiências traumáticas, como a do nascimento. Daí o nome da técnica.
Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia.