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Empresas abrem caminho para a inclusão racial

Lá se vão oito anos desde que o Brasil instituiu o sistema de cotas raciais nas universidades, em meio a discussões entre defensores e detratores da medida. Hoje, a inclusão racial no mercado de trabalho parece ser o maior desafio a ser vencido. As ações afirmativas de empresas para reparar o que se considera uma dívida histórica da sociedade brasileira com a parcela negra da população já são mais comuns, mas ainda isoladas e sujeitas a reações contrárias.

O exemplo recente mais comentado é o do Magazine Luiza, que, numa atitude incomum no meio empresarial, abriu um programa de trainee exclusivamente para negros. As reações negativas não tardaram. O Ministério Público do Trabalho recebeu onze denúncias de que a empresa varejista estava promovendo o racismo. Indeferiu todas elas, concluindo que se trata de uma ação afirmativa de reparação histórica.

“O que os empregadores não podem fazer é criar seleções em que haja reserva de vagas ou preferência a candidatos que não integram grupos historicamente vulneráveis”, declarou a procuradora Adriane Reis de Araújo, coordenadora nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho.

Dias depois, foi a vez de a Defensoria Pública da União entrar com uma ação civil contra o Magazine Luiza na Justiça do Trabalho, alegando discriminação a outros candidatos e pedindo indenização de R$ 10 milhões por danos morais coletivos. Advogados partiram mais uma vez em defesa da empresa, citando leis que amparam as ações afirmativas.

Também antenada com a inclusão racial, a multinacional alemã Bayer, voltada para saúde e nutrição, abriu o programa Liderança Negra, dedicado a preparar jovens profissionais negros graduados e pós-graduados para posições de liderança. Já a P&G, do setor de bens de consumo, lançou o programa de desenvolvimento de estudantes negros P&G e Você, com o objetivo de capacitar jovens para seu processo seletivo.

 

AÇÕES AFIRMATIVAS AINDA TÍMIDAS

Procurando embarcar no bonde do racialmente correto, o presidente do grupo Boticário, Artur Grynbaum, anunciou ter deixado de usar o nome Black Friday para designar sua semana de promoções anual, que passa a ser chamar Beauty Week. Em comunicado, afirmou que o termo era “um incômodo recorrente” e que há anos se discutia se tinha alguma relação com “a questão da escravatura”. Nada falou, porém, sobre medidas de inclusão racial nos quadros do grupo.

Para ativistas, as ações afirmativas nas empresas ainda são tímidas num país onde, segundo dados do IBGE, 56% da população se autodeclara negra. Dirigente de uma rede de cursos preparatórios para universitários negros e membro da Coalizão Negros de Direitos, o historiador Douglas Belchior disse à Época, em recente artigo, que as empresas estão chegando muito tarde ao assunto e terão que acelerar o passo.

A barreira às cotas para o ensino superior parece estar sendo vencida. No ano passado, pela primeira vez o número de pretos e pardos ultrapassou o de brancos nas universidades públicas, chegando a 53%, de acordo com o IBGE. No  mercado de trabalho, porém, a caminhada está começando. Ali, a maior dificuldade para os negros é atingir cargos de liderança. A explicação das empresas para isso costuma ser a falta de profissionais qualificados. Belchior discorda: “O racismo no Brasil é perverso a ponto de manter as pessoas fora das empresas sem ter segregação institucionalizada.”

Estudos têm indicado que a diversidade humana só faz beneficiar o mundo corporativo, melhorando a produtividade e os lucros. Especialistas e consultores vêm batendo nessa tecla e enumerando argumentos em defesa da inclusão racial nas empresas. Uma das vantagens seria deixar de contratar profissionais que repetem o mesmo padrão de comportamento. Eles atestam: pluralidade propicia crescimento.

Bruno Casotti é jornalista e tradutor.

 

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