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Mulheres se unem na França para envelhecer bem

No folclore russo, a baba yaga é uma feiticeira velha e solitária, que monta um dragão e tem muitos disfarces. Em geral, é retratada com uma aparência sombria e feroz. Na França, porém, as babayagas são senhoras bem mais simpáticas e sociáveis. Elas formam um grupo de vinte e poucas mulheres de mais de 60 anos, ativas, independentes e que prezam a autonomia, embora tenham projetos em comum. Habitam um mesmo prédio no município de Montreil, perto de Paris, conhecido como a Maison da Babayagas.

O jornal francês Le Monde já chamou o lugar de antiasilo. E não deixa de ser. Ainda que a solidariedade seja outra marca registrada das babayagas, o objetivo ali é envelhecer bem. Se uma delas perde a autonomia física ou mental, precisa deixar a casa e procurar o apoio da família ou de uma instituição dedicada a cuidar de idosos. Uma regra de ouro dessa comunidade feminina é a autogestão.

Boa parte dessas mulheres tem filhos e netos, mas todas são solteiras, divorciadas ou viúvas. Apesar da convivência em grupo ser mais uma característica das babayagas, cada uma tem o seu pequeno apartamento. Elas próprias cuidam desse espaço individual e ainda são responsáveis pela manutenção das áreas comuns do prédio, que incluem três jardins. E ali não entra faxineira.

“Fazemos nós mesmas nossas compras, nossas refeições, lavamos nossa roupa, pintamos nossos apartamentos quando precisamos”, disse Kerstin, 76 anos, presidente do grupo, ao site da Rádio França Internacional (RFI). Ela emendou: “Este prédio em que moramos fica no centro da cidade, temos cinema, mercados à disposição, o teatro, restaurantes, o metrô fica na nossa porta. Não envelhecemos rápido aqui.”

 

LISTA DE VALORES A SEREM RESPEITADOS

A Maison foi inaugurada em 2013, fruto de um projeto da ativista feminista Thérèse Clerc (1927-2016), que participou do histórico Maio de 68 e já foi retratada em filmes. Ela preparou um documento com uma lista de valores a serem respeitados pelas moradoras, entre os quais constam cidadania, feminismo, ecologia, laicidade e solidariedade. As babayagas também rejeitam racismo, homofobia, extremismos e preconceito.

Para morar ali, é preciso se candidatar. O prédio é um imóvel social, destinado pelo governo a pessoas de baixa renda. O aluguel é baixo e a associação tem apoio financeiro e logístico da prefeitura de Montreil, que também pode apresentar candidatas a integrar o grupo. Várias delas são estrangeiras, mas todas precisam ter nacionalidade francesa. A associação tem outros membros que não moram ali mas participam das atividades coletivas e contribuem para o projeto.

Entre as atividades coletivas há aulas de ioga, tango e projeção de filmes. As babayagas podem namorar, é claro, mas não podem dividir a moradia com alguém, o que fere as regras do projeto.  “Aqui estamos entre amigas, não estamos na ausência de ninguém, é uma escolha nossa. Nada aqui é proibido”, disse à RFI a professora aposentada Catherine, 66 anos, secretária geral das babayagas.

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