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O futuro da escrita no mundo digital

Atualmente cerca de 20% das pessoas no mundo ainda são consideradas semianalfabetas ou analfabetas. São pessoas que não podem ler ou redigir declarações simples sobre sua vida cotidiana, encontrando dificuldades de comunicação e empregabilidade. O baixo nível de alfabetização é devido à pouca ou nenhuma prática de leitura ou transtornos de aprendizagem, como a dislexia.

Para países em desenvolvimento com baixas taxas de alfabetização, o reconhecimento de voz por inteligências artificiais tem sido muito utilizado como uma solução por empresas de tecnologia. Mas essas inteligências artificiais seriam realmente a solução para o baixo nível de alfabetização?

 

Prognóstico tradicional

Segundo psicolinguistas, a resposta é: não. Em um artigo de opinião da Trends in Cognitive Sciences, psicolinguistas sugerem que confiar na tecnologia da fala pode ser contraproducente, pois a alfabetização tem benefícios cruciais, mesmo além da leitura.

É importante ressaltar as vantagens da leitura sobre a fala, especialmente porque as pessoas tendem a ler menos e de maneiras diferentes do que costumavam. Os hábitos contemporâneos de escrita e leitura de mídias sociais, por exemplo, são bem diferentes da mídia impressa tradicional. Informações que as pessoas usavam para obter fontes escritas, como romances, jornais, avisos públicos ou até livros de receitas, agora são obtidas por mais vídeos do YouTube, podcasts ou audiobooks.

Isso não é necessariamente uma coisa ruim, já que alguns dos benefícios da leitura também podem ser obtidos a partir de audiolivros. Como esses livros possuem linguagem literária, ouvi-los conferirá algumas vantagens semelhantes, como um vocabulário maior, maior conhecimento do mundo e uma memória maior de curto prazo.

O mundo dos plenamente alfabetizados

Mas, ler em si é crucialmente importante para desenvolver a habilidade de prever as próximas palavras, que são transferidas da leitura para o entendimento da linguagem falada. Ler treina o sistema de previsão de linguagem, embora até mesmo crianças muito novas, que ainda não sabem ler, possam prever onde uma frase está indo. As crianças, que estão entre os leitores mais ávidos, aprendem mais de 4 milhões de palavras por ano, enquanto as crianças que raramente leem aprendem apenas cerca de 50.000 palavras.

Como resultado, bons leitores têm uma compreensão mais profunda do significado das palavras e constroem grandes redes de palavras com fortes associações entre elas, o que as ajuda a prever as próximas palavras. Como os leitores pobres têm vocabulários menores e representações mais fracas das palavras em sua mente (ou seja, a lembrança do som e do significado de uma palavra), as relações preditivas entre as palavras também são mais fracas.

Como a leitura é autossuficiente, existe um forte incentivo para prever as próximas palavras, pois isso acelera a leitura, que é tipicamente muito mais rápida do que ouvir. Leitores habilidosos tendem a absorver palavras inteiras de uma só vez (olhando com os olhos para várias letras ao mesmo tempo) e cronometram seus movimentos oculares para otimizar o processo de leitura. Textos impressos são muito mais regulares do que o discurso de conversação, que é cheio de disfluência, pronúncias de palavras incompletas e erros de dicção. Essa regularidade dos textos escritos ajuda os leitores a formar as relações preditivas entre as palavras que, por extensão, também podem ser usadas para prever melhor as palavras ao ouvir a fala.

 

A importância da palavra escrita

É difícil imaginar para alguém que aprendeu a ler há muito tempo, que até mesmo o conceito de “palavra” é uma invenção da mente letrada; é muito difícil entender se você é um analfabeto que só ouve um fluxo de sons da fala. Por exemplo, quando analfabetos ou crianças que ainda não aprenderam a ler são solicitados a repetir a última palavra de uma frase falada, eles tendem a repetir a frase toda.

Em contraste, as palavras destacam-se claramente na linguagem escrita, sendo tipicamente separadas pelo espaço em branco. As formas escritas tornam as palavras mais salientes e precisas: os leitores tornam-se mais conscientes de que as palavras são unidades estáveis ​​na linguagem. Armazenar a forma escrita de palavras na memória também ajuda a tornar as formas de palavras faladas mais salientes, a serem acessadas mais rapidamente ao prever a próxima fala. E, novamente, é a previsão da próxima linguagem que faz com que a compreensão da linguagem se torne realmente rápida e proficiente.

Ou seja, a tecnologia da fala nunca deve substituir a aprendizagem pela leitura. A alfabetização leva a uma melhor compreensão da fala, porque bons leitores são bons em predizer palavras. E a escrita é uma antiga tecnologia humana que não devemos abandonar facilmente. Ensinar a ler e a ler melhor continua sendo muito importante mesmo em um mundo tecnológico moderno.

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