Pesquisas têm mostrado que empresas que contam com mais mulheres em posições de comando são mais lucrativas, mais socialmente responsáveis e proporcionam experiências de maior qualidade a seus clientes, entre outros benefícios. Mas não é fácil explicar por que isso acontece. Três especialistas se dispuseram a investigar empresas que mudaram sua abordagem estratégica nomeando mulheres para cargos executivos importantes.
Divulgado na Harvard Business Review, o estudo foi realizado por Corinne Post, professora de administração da Lehigh University (Estados Unidos); Boris Lokshin, professor do Departamento de Organização, Estratégia e Empreendedorismo da Universidade de Maastricht (Holanda); e Christophe Boone, professor de teoria de organização e comportamento da Faculdade de Administração e Economia da Universidade de Antuérpia (Bélgica).
Os três professores examinaram o funcionamento de nada menos que 163 empresas multinacionais durante treze anos. Todas elas tinham status de liderança no mercado europeu e se caracterizavam pela inovação estratégica em três áreas: tecnologia, pesquisa e desenvolvimento e fusões e aquisições. Segundo eles, as abordagens encontradas nessas companhias mostraram iniciativas bastante diversas, mas foi possível identificar três tendências a mudanças no pensamento estratégico associadas ao comando feminino:
- As empresas se tornaram mais abertas a mudanças e menos abertas a riscos: Segundo os pesquisadores, essas organizações empreenderam cada vez mais transformações, mas, ao mesmo tempo, procuraram reduzir os riscos associados a estas. Para eles, as mulheres no comando trazem não apenas novas perspectivas para as equipes de gestão, mas mudam o modo como estas pensam, ou seja, sua presença torna as equipes mais abertas a mudanças e menos dispostas a correr riscos. As mulheres proporcionaram uma mudança de mentalidade que se refletiu no modo de tomar decisões estratégicas fundamentais, disseram.
- O foco das empresas saiu de área de fusões e aquisições e foi para o campo de pesquisa e desenvolvimento: A estratégia de compra de conhecimento focada em fusões e aquisições – que poderia ser considerada uma abordagem mais tradicionalmente proativa e masculina – deu lugar a uma estratégia de construção de conhecimento focada em pesquisa e desenvolvimento internos, o que poderia ser considerado uma abordagem mais colaborativa e feminina. Isso seria resultado da crescente aversão a riscos identificada no comando feminino.
- O impacto da nomeação de mulheres para posições de comando foi maior quando estas se integraram bem às equipes de gestão: Quanto mais se integraram às equipes de gestão, maior foi o impacto das mulheres executivas nas decisões da empresa. Segundo os pesquisadores, isso pode ser influenciado por dois fatores. O primeiro deles é o fato de que já havia pelo menos uma mulher na equipe. Só nesses casos eles verificaram uma mudança de pensamento, possivelmente porque isso tornava o ambiente mais confortável e com menos obstáculos à mulher no comando. O segundo fator foi a constatação de que as maiores mudanças de pensamento ocorreram quando as mulheres nomeadas para o comando integravam grupos menores de novos nomeados. Assim, se uma uma empresa promoveu dez homens e duas mulheres, houve menos impacto do que quando promoveu cinco homens e uma mulher.