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Vozes brancas em favor dos negros

Faz tempo que foi por água abaixo a teoria da democracia racial no Brasil, apresentada pelo sociólogo Gilberto Freyre em seu livro Casa-Grande & Senzala, de 1933. A ideia de que somos um país onde negros, indígenas e brancos convivem em paz foi sendo soterrada aos poucos pela própria realidade da discriminação racial no país. A novidade por aqui é o engajamento cada vez maior dos brancos no movimento antirracista, a exemplo do que vem acontecendo nos Estados Unidos.

No Brasil, as vozes brancas contra o racismo têm se manifestado principalmente nas redes sociais, sem chegar às ruas com a força demonstrada nos EUA, o que suscita críticas no movimento negro. Em artigo em seu site, o SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia comentou: “A crítica se dá, principalmente, pela chuva de pessoas brancas que tem se posicionado como antirracistas nas redes, mas que pouco tem promovido um engajamento real para a mudança sistêmica do racismo.”

O destaque no Brasil acaba ficando por conta de atitudes antirracistas de figuras conhecidas da mídia. O comediante Paulo Gustavo chamou atenção por ceder sua conta no Instagram (13,5 milhões de seguidores) durante um mês à filósofa e escritora Djamila Ribeiro, autora de Pequeno manual antirracista e Quem tem medo do feminismo negro (ambos pela Companhia das Letras).  Tatá Werneck seguiu o exemplo do colega e entregou suas contas em redes sociais (41 milhões de seguidores) durante um mês à atriz e cantora Linn da Quebrada, com o objetivo de promover um debate sobre preconceito contra pessoas negras trans.

Mas o público está mais atento a atitudes consideradas discriminatórias. No programa Em Pauta, na GloboNews, um debate sobre racismo protagonizado por comentaristas brancos provocou críticas nas redes sociais. Diante disso, os produtores fizeram um mea-culpa e escalaram para o programa uma equipe formada exclusivamente por profissionais negros.

 

PARTICIPAÇÃO MAIOR EM PROTESTOS NOS EUA

Individualmente, os brancos podem  se posicionar contra atitudes racistas flagradas nas ruas, em casa, aonde for. Em recente participação no programa UOL Entrevista, a diretora da Anistia Internacional do Brasil, Jurema Werneck, observou que brancos podem denunciar outros brancos que se expressam de maneira racista dentro de seus próprios grupos – e que não se expressariam assim se estivessem diante de uma negra como ela.

“Há um lugar de fala para o branco no antirracismo, que não pode ser o meu, o de uma pessoa negra”, afirmou Jurema, que é médica e doutora em comunicação. “Mas há lugar para todo mundo”, prosseguiu ela, “porque não existe antirracismo só por uma parte da sociedade. Tem um lugar para o branco no antirracismo. É preciso que esta voz branca seja cada vez mais ativa.”

Nos EUA, nunca tantos brancos compareceram a protestos contra o racismo quanto nas recentes manifestações desencadeadas pela morte de um americano negro nas mãos da polícia. Segundo uma recente pesquisa de opinião da Universidade Monmouth, aumentou de 25% (em 2016) para 49% o número de americanos brancos que consideram mais provável que a polícia use força excessiva contra um suspeito negro. A pesquisa mostrou também que subiu de 51% (2015) para 76% o índice de americanos em geral que consideram a discriminação étnica um grande problema.

Os resultados da sondagem sinalizam um aumento da empatia da população branca em relação à discriminação enfrentada por negros. Diretor do instituto responsável pela pesquisa, Patrick Murray afirmou no site da universidade: “Parece que chegamos a um ponto de virada na opinião pública em que os americanos brancos estão percebendo que os americanos negros enfrentam riscos que eles não enfrentam ao lidar com a polícia.”

Bruno Casotti é jornalista e tradutor.

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