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Entenda por que o estresse tem seu lado bom

Em 2014 a pesquisadora Kelly McGonigal iniciou seus estudos sobre a positividade presente no estresse após entrar em contato com a psicóloga especializada em mentalidades Alia Crum. A partir desse encontro, McGonigal encontrou uma verdade surpreendente: o estresse nem sempre é nocivo, e aprender a lidar com esse estímulo pode mudar radicalmente o seu efeito.

Veja o trecho abaixo do livro O lado bom do estresse (Réptil, 2016) sobre as conclusões que Kelly McGonigal  chegou a partir desse encontro e reavalie a sua relação com os níveis de estresse presentes na sua rotina.

A psicóloga Alia Crum e seus colegas desenvolveram a Escala de Mentalidade de Estresse para avaliar as visões sobre o estresse. Dê uma olhada nas duas mentalidades a seguir e tente descobrir com qual das duas você mais concorda— ou pelo menos concordaria.

  1. Mentalidade 1: estresse faz mal.
    Sentir estresse exaure a saúde e a vitalidade.
    Sentir estresse debilita o desempenho e a produtividade.
    Sentir estresse inibe o aprendizado e o crescimento.
    Os efeitos do estresse são negativos e devem ser evitados.
  2. Mentalidade 2: estresse faz crescer.
    Sentir estresse melhora o desempenho e a produtividade.
    Sentir estresse melhora a saúde e a vitalidade.
    Sentir estresse facilita o aprendizado e o crescimento.
    Os efeitos do estresse são positivos e devem ser aproveitados.

Das duas mentalidades, “estresse faz mal” é de longe a mais comum. Crum e seus colegas descobriram que, embora consiga ver um fundo de verdade nas duas, a maioria considera o estresse mais nocivo que positivo. Não há diferença entre homens e mulheres, e também não é possível prever a mentalidade pela faixa etária.

As tendências que Crum observou são condizentes com as descobertas de outras pesquisas norte-americanas. Em um estudo de 2014 realizado pela Fundação Robert Wood Johnson e pela Faculdade de Saúde Pública de Harvard, 85% dos norte-americanos concordam que o estresse tem um impacto negativo na saúde, na vida em família e no
trabalho. De acordo com a pesquisa da Associação Norte-Americana de Psicologia sobre o estresse nos Estados Unidos, a maioria considera seus níveis de estresse prejudiciais à saúde. Mesmo quem alega passar por pouco estresse acredita que o nível ideal é abaixo do que sente. Ao longo dos anos, o nível de estresse que a população considera saudável baixou: em 2007, quando a associação começou a fazer sua pesquisa anual, pensava-se que um grau moderado era o ideal. Agora, os participantes consideram este mesmo nível moderado prejudicial.

A visão negativa do estresse é associada a resultados muito diferentes dos de uma perspectiva otimista. A pesquisa de Crum mostra que quem acredita que o estresse ajuda a crescer vive mais do que quem acredita que ele é nocivo. Essas pessoas tendem a ter mais energia e menos problemas de saúde. São mais felizes e produtivas no trabalho. Também têm uma relação muito diferente com o estresse: é mais provável que elas encarem a situação estressante como um desafio, e não um problema hercúleo. Têm mais confiança na própria capacidade de superar esses desafios e mais facilidade de ver um sentido em circunstâncias difíceis.

Agora, se você é dos meus, sua reação inicial a essas descobertas é de descrença. A minha foi mais ou menos assim: “Gente que tem uma visão mais positiva do estresse é mais feliz e saudável porque não está estressada de verdade. O único jeito de ter uma percepção dessas é não tendo se estressado muito na vida. É só sofrer um pouquinho
mais para mudar de ideia.” Embora minha descrença tenha sido fruto mais da minha mentalidade que de um pensamento científico, não deixa de ser uma hipótese razoável. Crum levou em conta a possibilidade de a visão otimista resultar de uma vida mais tranquila. Mas, quando olhou os dados, ela só encontrou uma relação muito tênue entre a visão do estresse e a gravidade do estresse sofrido. Também encontrou uma correlação bem pequena entre o número de acontecimentos estressantes na vida (como divórcio, morte de ente querido, mudança de emprego) pelos quais os participantes passaram no ano anterior e o pessimismo da sua percepção. Não era verdade que pessoas com uma postura otimista levavam uma vida livre de sofrimento. Além disso, Crum também descobriu que a visão positiva era benéfica independentemente da intensidade do estresse pela qual o participante estava passando e havia passado no ano anterior

Portanto, é possível que a sua mentalidade não seja reflexo do estresse pelo qual você passou, mas sim um traço da personalidade. Afinal de contas, algumas pessoas costumam ter uma visão mais positiva de tudo, inclusive do estresse. E a pesquisa mostra que otimistas vivem mais que pessimistas. Talvez seja um otimismo generalizado que proteja as pessoas dos efeitos nocivos do estresse. Crum também considerou isso. Acontece que as pessoas com a mentalidade positiva em relação ao estresse têm maior probabilidade de ser otimistas, mas a correlação é pequena. Além do otimismo, mais dois traços aparentam estar ligados a uma visão positiva: a atenção plena e a tolerância à incerteza. Entretanto, as análises de Crum mostram que nenhum desses traços explica os efeitos da mentalidade na saúde, na felicidade e na produtividade no trabalho. Embora a percepção do estresse possa sofrer influências da personalidade e da experiência pessoal, nada disso explica os efeitos da mentalidade na felicidade e na saúde.

Texto presente no livro O lado bom do estresse (Réptil, 2016).  Kelly McGonigal, 2016

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