Um hábito comum entre nós é observar se uma pessoa envelheceu bem ou mal. Os parâmetros, em geral, são físicos, passando por rugas, barriga, cabelo e postura. Mas por que alguns são privilegiados, enquanto para outros o tempo parece ter sido cruel? Embora ainda busque explicações mais precisas, a ciência ensina que há uma combinação de fatores genéticos com estilo de vida quando se trata de aparência física. Mas adverte que nem sempre boa aparência é o mesmo que envelhecer bem.
“O corpo humano envelhece porque suas células envelhecem”, afirma Salvador Macip, doutor em genética molecular e diretor do Laboratório de Câncer e Envelhecimento da Universidade de Leicester, na Inglaterra, em depoimento ao El País. Esse processo é causado por uma série de fatores, entre os quais perda de células-tronco e aumento da oxidação, explica. E analisa: “Não tem uma causa única, por isso é difícil entender e manipular.”
Já a bióloga molecular María A. Blasco, diretora do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas, observa que o processo de envelhecimento envolve o desgaste dos telômeros, estruturas que protegem o nosso material genético e que, por isso, são essenciais para a vida das células do organismo.
Para além dos fatores físicos, María Sarabia Cobo, doutora em psicologia e especialista em envelhecimento e doenças neurodegenerativas, lembra que o conceito de velhice é cultural e social. “Na nossa cultura ocidental e em um mundo globalizado, o envelhecimento físico é sinônimo de algo negativo”, afirma ela.
FATORES AMBIENTAIS NOCIVOS INCLUEM EXPOSIÇÃO AO SOL E ESTRESSE
Para Cobo, envelhecer bem é, na verdade, “um estado em que a pessoa se refere sobretudo à satisfação com o momento que está vivendo”. Ela acrescenta: “Vai além de estar bem fisicamente, não ter doenças ou ser independente. É um conceito global em que a pessoa em primeiro lugar se refere a ter uma boa qualidade de vida, sentir-se plena e satisfeita.” A psicóloga cita estudos que definem envelhecer como a capacidade de se adaptar bem às mudanças e viver plenamente.
Mais difícil, porém, é entender, afinal de contas, por que para algumas pessoas “os anos não passam”, enquanto para outras os efeitos do tempo são mais acentuados. É aí que a ciência se volta para a carga genética combinada ao estilo de vida.
“Acredita-se que existam fatores muito determinados pela carga genética (como o envelhecimento de órgãos internos como os pulmões ou os rins) e outros com forte carga ambiental (principalmente nosso estilo de vida), como o envelhecimento da pele ou do nosso sistema imunológico”, diz Cobo.
Se não há muito o que possamos fazer em relação à genética, é possível adotarmos um estilo de vida saudável. No caso da pele, um aspecto emblemático do envelhecimento, a dermatologista María Helena de las Heras recomenda proteger-se do sol, não fumar, dormir bem, seguir uma dieta com muitas frutas e verduras, evitar estresse e poluição e usar ácido glicólico ou ácido retinoico.
Já Cobo acrescenta a essa lista atividades físicas e manter uma vida social “ativa e com sentido”. “Nosso estilo de vida interage com nossa genética de uma forma importante”, diz ela. “E esse estilo de vida saudável tem duas vertentes interessantes: a primeira é que quanto mais cedo adquirirmos hábitos saudáveis, melhor para o nosso organismo; e a segunda é que nunca é tarde para começar a adquiri-los, porque seu benefício é sempre relevante.”
Fonte: Artigo de Ana Bulnes para o El País.