Os japoneses são conhecidos historicamente pela capacidade de superação. O escritor e engenheiro espanhol Héctor García, que vive há anos no Japão, interpreta o espírito por trás dessa força de vontade, presente na expressão ganbatte, que significa “esforce-se ao máximo”. É o que difere a fragilidade da cultura ocidental da resistência japonesa, explica ele ao El País. E que nesses tempos de pandemia todos nós poderíamos adotar.
Os resultados do ganbatte parecem saltar aos olhos no Japão. Após a derrota na Segunda Guerra Mundial, os japoneses reconstruíram em trinta anos um país arruinado. Realizaram um milagre econômico que os alçou a segunda maior economia no mundo. Foi essa força de vontade que imperou no país também após o terremoto de Kobe, em 1995, após o tsunami de 2004 e após a catástrofe nuclear de Fukushima, em 2011. Essa atitude estaria no inconsciente coletivo do povo.
Os ocidentais costumam desejar “boa sorte” a alguém que está diante de um desafio – seja uma prova, uma entrevista de trabalho ou uma dificuldade na vida. É uma expressão que remete a algo que vem de fora, como se o êxito dependesse de um fator externo. Já os japoneses dizem: ganbatte kudasai. É uma forma delicada de dizer à pessoa para dar o melhor de si, ou seja, algo de dentro para fora.
Esta seria também uma postura típica dos japoneses diante da maior crise sanitária dos últimos cem anos, a pandemia. E também o modo como eles se comportam para estimular equipes esportivas, animar amigos deprimidos e motivar funcionários de empresas que enfrentam situações críticas.
O ganbatte se traduziria em cinco princípios básicos:
- Valorize pequenas ações: Avanços pequenos, mas continuados, levam a grandes transformações. Isso remete às filosofias budista e Kaizen, à permanente busca por melhorar.
- Faça em vez de reclamar: Atitude bem expressada no conselho que a vice-presidente americana, Kamala Harris, recebia de sua mãe indiana na infância: “Não fique de braços cruzados enquanto se queixa das coisas. Faça algo.”
- Não desperdice energia: Não se desgaste em discussões que não levam a nada ou em lamentos insistentes. Preserve sua força mental e use-a para avançar.
- Foque na esperança, não no desespero: A incerteza diante de quando tudo vai terminar só traz negatividade. Mantenha o ânimo.
- Cerque-se de pessoas que têm entusiasmo: Busque a companhia daqueles que têm o espírito de ganbatte, que se esforçam para melhorar e não caem na negatividade.
Para os japoneses, o esforço sempre leva a algum lugar quando empreendido de forma contínua. Por isso mesmo, um componente indispensável ao ganbatte é a paciência. Em lugar de esperarmos que a realidade mude, assumimos um compromisso de criar uma realidade mais promissora.
Ganbatte é uma flexão do verbo ganbaru, esforçar-se. Segundo o jornal The Japan Times, ganbaru pode significar também “ocupar um determinado lugar e não se mover”, como faz um sentinela. O uso predominante do termo, porém, está relacionado à capacidade de resiliência, ou resistência, ou ainda, conforme a tradução do dicionário japonês, “suportar adversidades sem ceder a elas”.
Viver no Japão pressupõe a capacidade de suportar muitas coisas, diz o Japan Times. Outra palavra associada ao comportamento desse povo é gaman, que significa sofrimento em silêncio, ou o que se espera das pessoas na maior parte do tempo – independentemente da dificuldade que enfrentam.