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Gestão emocional e mindfulness

Quando falamos sobre administrar emoções e sobre mindfulness, muita gente não vê conexão entre os temas. Pensa que são assuntos diferentes. Mas essa é uma ideia equivocada. Eles estão interligados. Vamos entender isso.

Mindfulness é um treinamento para passar de um estado de semiconsciência para um estado de consciência plena. Por meio desse treino, você amplia a percepção. Passa a perceber coisas que antes, com uma mente dispersa e indisciplinada, não percebia. Passa não apenas a perceber fora de você, mas a especular dentro de você.

Muitos pensam que o benefício mais importante de mindfulness é relaxar, para controlar o estresse e a ansiedade. Mas, como afirmam pesquisadores, incluindo Fred Kofman, o maior benefício é a possibilidade de objetivar os próprios pensamentos.

Uma vez que você pode observar os próprios pensamentos, pode operar sobre eles. Pode fazer algo a respeito deles. Dessa forma, está combatendo o estresse na raiz, na fonte.

Você tem a possibilidade de operar sobre pensamentos e emoções. Isso também significa “escolher” pensamentos e emoções: esse me serve, me ajuda; esse me impede de chegar aonde quero, ou de ser quem quero ser.

Quando você está totalmente identificado com seus pensamentos, eles tomam conta de você. Quando você treina para tornar seus pensamentos objetos, tem a possibilidade de alinhá-los, perceber se são baseados em fatos ou em interpretações e fantasias e decidir sobre eles. Não são eles que decidem sobre você, mas você que decide sobre eles.

Como diz Fred, a prática de mindfulness lhe converte no observador de seus próprios pensamentos e emoções, por isso você pode trabalhar sobre eles. Sem esse distanciamento, você seguirá fórmulas de resultados circunstanciais sobre o estresse.

Fred dá o exemplo de uma criança de 3 anos. Nessa idade, não é possível trabalhar sobre seus pensamentos e emoções. A criança está tão apegada a eles que não consegue percebê-los. Muitos de nós, em diferentes momentos, temos essa mesma experiência de uma criança de 3 anos.

Fred conta que, certa vez, entrou no cinema, sentou e estranhou que o filme estava muito escuro. De repente, percebeu que não tinha tirado os óculos escuros.

Olhamos algo com óculos e não percebemos que estamos de óculos. Através dos óculos, vemos da mesma forma que vemos através de nossas ideias e emoções. Nós nos comportamos como vítimas e não nos damos conta, porque estamos fixados em uma certa história. Não soltamos determinadas crenças que nos prejudicam, porque não nos damos conta de que estamos fixados em uma única forma de olhar.

No filme Untold, quando o tenista Mardy Fish vai para o jogo contra Roger Federer, sua mulher lhe diz: “Você não precisa jogar.” Só então ele se dá conta disso, porque o padrão que tinha em mente era de “aguentar tudo”.

Mindfulness pode funcionar como um processo de gestão emocional, que cria condições para você olhar seu “programa mental” e ver onde está dando erro e causando dor, ver onde tem uma peça mal encaixada. Com essa consciência de observador, é mais fácil operar normalizando o programa mental.

Isso é conhecimento de sabedoria milenar associado a neurociência e a ciência cognitiva. A mente tem essa capacidade de observar a si mesma, o que chamamos de metaconsciência. Graças a isso, podemos trabalhar nosso conteúdo interno.

Consciência é a capacidade de se dar conta. Um animal se dá conta de muitas coisas. As plantas se dão conta de onde vem a luz e se voltam para ela. Nós, humanos, nos damos conta de que nos damos conta. Essa é a grande diferença. Por isso, podemos mudar, transformar e modelar pensamentos, emoções e comportamentos.

Graças a isso, podemos decidir e definir não apenas sobre o nosso presente, mas também sobre o nosso futuro. Também em função disso, temos dúvidas e conflitos existenciais que plantas e animais não têm.

Fred tem um podcast muito bom, “Meditar a Consciência”. No episódio 29, ele diz: “A consciência é anterior a toda experiência, assim como todo mar é anterior a toda onda.”

O que isso significa? A consciência é como uma tela em branco de cinema onde são projetadas todas as nossas experiências, sejam sensações físicas, emoções, pensamentos, fantasias ou memórias. Quando a projeção de um filme termina, a tela volta a seu estado sem ter sido afetada pelas imagens. O mesmo acontece com a nossa consciência.

Por isso, a sabedoria milenar do Oriente diz que no fundo de sua consciência existe total serenidade. O movimento existe apenas na superfície. Quanto mais profundo, mais sereno. Um mergulho no mar é outro exemplo. Na superfície, o barulho das ondas. No fundo, o silêncio.

Então, tudo o que se projeta na tela da consciência é totalmente móvel e relativo. Não é definitivo nem absoluto. Todas as experiências são um padrão de vibração da consciência. Assim como aparecem, desaparecem.

Ocorre que às vezes nos fixamos em certas experiências e não nos damos conta. Quando isso acontece, a experiência produz efeitos em nosso corpo, mente e espírito.

Com essa compreensão e prática de distanciamento, podemos sentar na poltrona de nosso cinema interno e assistir ao filme que passa na tela de nossa mente sem sermos alterados pelas imagens. Podemos decidir assistir continuamente, paralisar o filme em alguma parte, interrompê-lo, levantar e sair ou mudar de filme.

Podemos escolher porque não somos o filme. Se não nos fixamos em nada, as imagens vão se suceder. Vão surgir, manter-se por algum tempo e depois desaparecer. Isso é gestão emocional por meio de treino de mindfulness: desenvolver uma mente aberta, que não se fixa, mas que flui.

 

Berenice Kuenerz, psicoterapeuta e coach de life-business e mindfulness.

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