Gilberto Gil é quem ensina: “Manter em pé o que resta não basta/Que alguém virá derrubar o que resta/O jeito é convencer quem devasta/A respeitar a floresta”. Os versos são da canção “Refloresta”, que o compositor baiano lançou para se unir a um grande projeto de reflorestamento liderado por outra fera das artes brasileiras, o premiado fotógrafo mineiro Sebastião Salgado.
A meta do projeto é produzir 1 milhão de mudas de 120 espécies nativas da Mata Atlântica por meio do Instituto Terra, mantido por Salgado e sua esposa, Lélia Deluiz Wanick Salgado. Desde que foi criada, em 1998, a organização sem fins lucrativos já plantou 3 milhões de árvores. A nova iniciativa chega em boa hora: a ONU definiu o período de 2021 a 2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas.
O Instituto Terra se dedica à restauração e desenvolvimento sustentável do Vale do Rio Doce, região que abrange os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Tem como sede a Fazenda Bulcão, em Aimorés, Minas Gerais, pertencente ao casal Salgado, que a transformou em Reserva Particular do Patrimônio Cultural. O trabalho ali inclui iniciativas de educação ambiental e pesquisas científicas.
A fazenda originalmente se dedicava à pecuária. Salgado e a esposa cuidaram de recuperar a vegetação e a tornaram um verdadeiro patrimônio de Mata Atlântica, o bioma mais destruído no país – restam 12% de sua área original. Nos cerca de 600 hectares da propriedade, já foram plantadas 2,2 milhões de árvores.
APOIO DE CHICO BUARQUE E OUTROS ARTISTAS
Em 2015, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos na bacia do Rio Doce. Depois da tragédia humana e ambiental, o Instituto Terra fez parceria com a Fundação Renova para ações de reparação e compensação.
O Instituto Terra conta agora com o apoio da empresa de seguros Zurich para a produção de mais 1 milhão de mudas. A maior parte delas está sendo cultivada no viveiro da fazenda de Salgado com sementes colhidas na região. Cerca de 15 mil delas vêm de viveiros de outras propriedades familiares da região.
Quando sugeriu a Gil fazer uma canção sobre reflorestamento, Salgado foi prontamente atendido. Quarenta e seis anos depois de lançar o álbum Refazenda, um dos maiores sucessos de sua carreira, o compositor se fez acompanhar de filhos e netos músicos para gravar “Refloresta” num clipe com produção executiva de Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo.
A iniciativa recebeu a adesão de artistas como Chico Buarque, Patricia Pillar, Bruna Lombardi e Marcos Palmeira. E Gil segue aliando o sucesso à causa ambiental. No clipe, com a cabeça enfeitada de plantas, ele canta: “Manter em pé o que resta não basta/Já quase todo o verde se foi/Agora é hora de ser refloresta/Que o coração não destrói”.
