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Mudanças de hábito para o bem do planeta

Evitar os efeitos catastróficos da crise climática no planeta não é tarefa que depende apenas de decisões políticas e institucionais, mas também de mudanças pessoais que podemos fazer em nossas vidas. O escritor americano Jonathan Safran Foer parte desse princípio para sustentar que é possível reduzir a emissão de carbono alterando certos hábitos cotidianos, a começar por uma redução no consumo de alimentos de origem animal.

No livro Nós somos o clima (Rocco), Foer desfila argumentos para propor uma melhor relação com o planeta, amparado por fatos, estatísticas, estudos, projeções e constatações próprias. Para muita gente, diz ele, a mudança climática é uma guerra que está acontecendo longe: temos consciência dos riscos, mas não nos sentimos dentro dela. “Essa distância entre consciência e sensação pode dificultar que até mesmo pessoas ponderadas e engajadas politicamente – pessoas que querem agir – tomem uma atitude”, analisa.

Para o autor, as quatro coisas de maior impacto que uma pessoa pode fazer para combater a mudança climática são: ter uma alimentação à base de plantas, evitar viajar de avião, abrir mão do carro e ter menos filhos. O foco de sua abordagem está principalmente na proposta, no mínimo original, de não comer nenhum produto de origem animal antes do jantar.

Para alcançar a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 2 graus, afirma Foer, o limite de emissão de CO2 por cada pessoa não deve passar de 2,1 toneladas métricas até 2050. Deixar de comer produtos de origem animal no café da manhã e no almoço, segundo ele, geraria uma economia de 1,3 toneladas por ano.

Foer calcula que uma dieta vegetariana saudável custa, em média, 750 dólares a menos por ano que uma dieta carnívora saudável. E 200 dólares a menos que uma dieta tradicional saudável. Sem contar o dinheiro gasto na prevenção de diabetes, hipertensão, câncer e doenças cardíacas, todos estes males relacionados ao consumo de alimentos de origem animal.

 

AÇÕES TESTEMUNHADAS E  REPLICADAS

De acordo com a ONU, lembra ele, a criação de gado é um dos dois ou três principais contribuintes para os problemas ambientais mais sérios do planeta. “Esse deveria ser um dos focos mais importantes das políticas que lidam com problemas de degradação do solo, mudança climática, poluição do ar, escassez de água e poluição de recursos hídricos, além da perda de biodiversidade”, diz.

Mas Foer contraria os cientistas avessos à ideia de que podemos salvar o mundo por meio de escolhas individuais de consumo: “As pessoas reciclam, protestam, votam, recolhem o lixo, apoiam empresas com boas práticas, doam sangue, intervêm quando alguém parece estar correndo perigo, questionam comentários racistas e abrem caminho para ambulância. Essas ações não fazem bem só à saúde individual de quem pratica, mas são essenciais para a saúde da sociedade: as ações são testemunhadas e replicadas.”

Adiante, ele observa: “Um engarrafamento não se faz com um só motorista. Mas não existe engarrafamento sem motoristas individuais. Estamos presos no engarrafamento porque somos o engarrafamento. As maneiras pelas quais vivemos nossas vidas, as ações que tomamos ou deixamos de tomar podem alimentar problemas sistêmicos e também podem mudá-los.”

É verdade que precisamos de mudanças estruturais, reconhece o autor, citando como exemplos disso uma rejeição global a combustíveis fósseis em favor de energias renováveis, a substituição de plástico por soluções descartáveis e a construção de cidades favoráveis a pedestres.

“Mas, deixando de lado o fato de que revoluções coletivas são feitas por indivíduos, lideradas por indivíduos e reforçadas por milhares de revoluções individuais, não teremos chance alguma de alcançar nosso objetivo de limitar a destruição ambiental se indivíduos não tomarem a decisão bastante individual de se alimentar de forma diferente”, defende.

E emenda: “É obviamente verdade que uma pessoa decidir adotar uma alimentação à base de plantas não vai salvar o mundo, mas é obviamente verdade que a soma de milhões de decisões vai.”

Bruno Casotti é jornalista e tradutor.

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