Um negacionista é capaz de mudar de ideia e resolver tomar uma vacina contra Covid-19 se tiver a chance de ver alguém que ele admira muito sendo imunizado. Essa repentina mudança de opinião tem uma explicação científica: a ação do neurônio-espelho, existente no cérebro humano.
Presidente do Instituto Nacional de Existência Humana, o médico Neil Hamilton Negrelli Jr. conta ao R.evolution Club que a teoria do neurônio-espelho foi apresentada em 1994 pelo neurofisiologista italiano Giacomo Rizzolatti e sua equipe da Universidade de Parma. Eles fizeram experiências com censores de eletroencefalograma instalados na região motora do cérebro de macacos.
Um dos macacos tinha acesso a um doce, enquanto os demais só podiam observá-lo. “Para pegar o doce, o macaco tem de produzir um efeito em seu cérebro para que consiga mexer a musculatura”, explica Negrelli. “O médico italiano percebeu que os outros macacos, mesmo sem mexer a musculatura, ao verem o macaco pegando o doce também acionavam aquela região do cérebro.”
Com a experiência, Rizzolatti encontrou explicações para fatos comumente observáveis, como aquela situação em que o bocejo de uma pessoa leva outras que estão presentes a bocejar também.
“Se extrapolarmos isso, é uma explicação do comportamento humano de imitarmos os outros em tudo o que fazemos”, afirma Negrelli. “Isso esclarece como nos tornamos parecidos com nossos pais em padrões comportamentais e também na liderança.”
Para o médico, o neurônio-espelho poderia influenciar a educação e a liderança. “Todos dizem aquela máxima de que ‘as palavras motivam, mas o exemplo arrasta’. É exatamente isso. O exemplo é muito mais forte e potente do que a palavra”, diz Negrelli.
POSSIBILIDADE DE REDEFINIR PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Com a descoberta, pesquisadores mostraram que esses neurônios espelham em nosso cérebro muitas ações que observamos no outro. A observação da ação deflagra uma espécie de ação interna e inconsciente da repetição daquilo que foi observado. E o comportamento é desencadeado pelas mesmas regiões do cérebro ativadas naquele que realizou o ato.
Conforme a revista Direcional Escolas, esse processo permite compreender ações que acabaram de ser tomadas aparentemente sem explicação para quem as tomou. Os neurônios-espelhos do observador “refletem” o comportamento observado, como se o observador sentisse e percebesse a mesma experiência e as mesmas sensações daquele que realiza a ação. É como se observar também implicasse em praticar aquela ação.
A descoberta dos neurônios-espelhos pode nos levar a uma redefinição do processo de ensino-aprendizagem, assim como nos ajudar a compreender a percepção e o entendimento que fazemos do outro. Pode contribuir ainda para a criação de novas reflexões pedagógicas, além da compreensão de como um determinado conhecimento pode influenciar e ampliar o que é considerado essencial aprender, sobretudo na primeira infância.
Já existe um consenso científico sobre a afinidade entre o processo de aprendizagem e os neurônios-espelhos, ou seja, por imitação, ainda que inconscientemente. Isso requer de educadores uma atenção redobrada sobre atitudes, comunicação, emoções e comportamentos em geral.
Quanto maior a demonstração de compaixão, confiança e amor do educador, por sua vez, maior será sua interação com as crianças a partir dessas emoções positivas, de apoio a si e ao outro. O efeito do neurônio-espelho, quando aproveitado pedagogicamente, pode se traduzir em um benéfico sentimento de autoeficácia, em uma perspectiva de colaboração e em uma visão confiante do planeta.
Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia.