Adotado no Brasil há 21 anos como política pública, o método canguru tem operado milagres na Nigéria, onde o índice de mortalidade neonatal é um dos mais altos do mundo. Foi esse procedimento que salvou o primeiro filho da nigeriana Ojoma Ekhomun, de 26 anos, nascido com 700 gramas de peso, após menos de sete meses de gestação: o bebê sobreviveu após passar semanas em contato direto com a pele da mãe.
No Brasil, o método do contato com a pele da mãe é adotado pela Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, do Ministério da Saúde, para crianças nascidas com peso mínimo entre 1,6 e 2,6 quilos – o que excluiria o filho de Ekhomun.
O que acontece com o bebê prematuro é que a ausência de um estoque de gordura corporal dificulta sua capacidade de regular a própria temperatura. Assim, a perda de calor é rápida e pode ficar fora de controle. As incubadoras auxiliam nesse equilíbrio, assim como o contato com a pele da mãe. Quando o bebê é acomodado em posição vertical no peito da mãe, ele compartilha o calor materno para estabilizar sua temperatura.
É um método “barato e pode ser feito em larga escala”, disse à BBC Linda Ethel Nsahtime-Akondeng, gerente de saúde do Departamento de Saúde Materno-Infantil da Unicef na Nigéria.
ALTERNATIVA EM LUGARES REMOTOS E POBRES
Num país como a Nigéria, o procedimento é mais do que bem-vindo. Ali, estima-se que 803 mil crianças morram prematuramente a cada ano. É o terceiro maior índice do mundo, perdendo apenas para Índia e China.
Segundo dados do Ministério da Justiça do Brasil de 2020, 15 milhões de bebês nascem prematuros por ano em todo o mundo. Aqui, seriam 340 mil, ou 12% dos partos – o dobro em relação a países europeus. Destes, morrem cerca de 1 milhão por ano. A principal causa da morte relatada é má formação fetal.
Uma das grandes vantagens do método canguru é representar uma alternativa às incubadoras, com frequência indisponíveis em lugares remotos e pobres. Outra, é que o recém-nascido não precisa recorrer às suas próprias energias e calorias para se manter aquecido.
“Assim”, disse Lawn, “o bebê destina essas calorias para ganhar peso, porque a mãe fornece (o calor, proveniente de seu próprio corpo)”, como explicou à BBC Joy Lawn, professora de saúde materna, reprodutiva e infantil da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Em geral, é preciso que o contato pele a pele do bebê condicionado verticalmente no peito da mãe seja mantido por pelo menos 18 horas diárias. Para a mãe, isso significa uma pequena pausa.
MÉTODO SURGIU NA COLÔMBIA NOS ANOS 1970
Dias após o parto prematuro, o peso do bebê da nigeriana Ekhomun caiu para 600 gramas, o que o tornou a menor criança já tratada no Centro Materno-Infantil Amuwo Odofin, em Lagos. De início, ele foi mantido numa incubadora, equipamento pouco frequente no país. Quando atingiu 1 quilo, peso ainda considerado arriscado, foi submetido ao método canguru.
Durante as semanas seguintes, a mãe o levou para onde quer que fosse pressionado contra a pele. Só o tirava dessa posição para amamentá-lo e dormir. Em dois meses, o menino estava com 1,8 quilo. O aconchego foi mantido nos meses seguintes, até ele se tornar um bebê cheio de saúde.
A professora Lawn pesquisou os benefícios do método canguru durante mais de uma década, principalmente na África. Para ela, trata-se de um procedimento que deveria ser priorizado não apenas em lugares carentes, mas também em países desenvolvidos, a fim de aliviar a sobrecarga em unidades de terapia intensiva neonatal.
Foi justamente com o objetivo de aliviar enfermarias sobrecarregadas que o método foi utilizado pela primeira vez, em 1978, por dois pediatras da maternidade do Hospital San Juan de Dios, em Bogotá. Ali eram feitos 11 mil partos por ano e o índice de mortalidade era alto entre os recém-nascidos.
Segundo Lawn, o método permite reduzir o risco de infecções hospitalares e, para o bebê, só tem vantagens. “Melhora o crescimento, a amamentação e o cérebro (do bebê)”, disse ela.