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O desafio de adaptar a psicanálise à tela

Em 1896, Sigmund Freud cunhou o termo psicanálise para uma prática que incluía o uso de um móvel acolchoado, o divã. Ali, pacientes se recostavam, o que favorecia o processo de se voltar para dentro de si mesmo. A pandemia subverteu a técnica ao introduzir as sessões remotas. Mas a procura por atendimento aumentou, enquanto analistas e analisandos se debatem sobre os prós e contra do novo procedimento.

A psicanalista Soraia Bento conta que em março do ano passado convidou seus analisandos para o atendimento remoto. Com a agenda completa, decidiu só aceitar novos pacientes se algum processo fosse finalizado ou interrompido.

“Nessa nova situação, poucos não quiseram continuar, preferiram esperar as coisas se normalizarem. As coisas não se normalizaram e continuamos na mesma até hoje”, diz ela. “Tentei manter o atendimento pessoal a pacientes com sofrimento importante, sintomas severos e crianças. E acho que o online não deve substituir completamente o presencial.”

Para Bento, o corpo, mesmo online, se faz presente na voz do analista. “Mas a ausência de um espaço preparado, privativo e longe da vida cotidiana pode modificar e até comprometer o que chamamos de enquadre, o conjunto de regras e contrato para a associação livre, instrumento fundamental para que a palavra indique os processos inconscientes”, explica.

 

DIFICULDADE DE PRIVACIDADE PARA ATENDIMENTO

Outro aspecto que veio à tona foi a falta de privacidade de pessoas que moram em casas pequenas. Há quem tenha dificuldade de falar abertamente por temer ser ouvido por familiares. Soma-se a isso a interferência de sons e imagens da vida íntima dos analisandos e também dos analistas, como gatos, cães, crianças e vizinhos.

Bento analisa: “Há crianças que têm no brincar a ferramenta de interação com o analista. Ou ainda os deprimidos, psicóticos, que mostram a insuficiência da palavra mediada pela tela. É como se faltasse o contato com outros sentidos que se apresentam no atendimento.”

Ela aponta uma extraordinária procura por horários, “inclusive de pacientes que tinham interrompido processos, por falta de tempo ou por mudança de cidade e país”. As exigências, porém, são maiores. “É como se eu tivesse que despender muito mais atenção e esforço para entrar no clima.”

A psicanalista Zoé de Freitas também observou um aumento da demanda. “Não porque estamos na tela, pela facilidade de acesso, com menos custos e deslocamentos, e sim pelo momento que vivemos, com agravamento dos sintomas”, avalia ela.

“A solidão nunca foi tão concreta. A paranoia saiu dos sintomas observados nos consultórios e se instalou em todos”, diz Freitas. “Nós nos protegemos nos distanciando dos nossos amores, amigos, pais, filhos e netos. A incerteza e a instabilidade são o estado cotidiano. A morte se dessacralizou e virou assunto de todo dia, quantos morreram hoje?”

A psicanalista conta que “pacientes que eram atendidos uma vez por semana pediram mais sessões e passaram a mandar mensagens no WhatsApp com muito mais frequência”. Segundo ela, é mais difícil para eles conviver com as angústias e ansiedades até o próximo encontro.

 

AUSÊNCIA DE MOMENTOS DE  COMPARTILHAMENTO

Freitas presta um atendimento reichiano, que pressupõe trabalhos de respiração e movimento durante as sessões, facilitados pelo contato presencial. Recorre também a “silêncios relacionais, fundamentais para que a fala seja ouvida além do previsível. E na tela são confundidos com a queda de conexão”, explica.

Ela lembra ainda a ausência do momento de compartilhamento de um cafezinho ou o da caminhada até o portão, na despedida. Mas diz que pretende manter o atendimento online até se sentir em segurança para voltar à sessão presencial. “A tela, para mim, é muito mais cansativa”, diz.

O arquiteto M. G., 56 anos, conta que experimentou os atendimentos pessoal e remoto. O segundo “permite encaixar a análise de uma maneira mais fácil, sem ter que se deslocar”, afirma. Mas ele vê com certo estranhamento o método consagrado por Freud praticado pela tela.

“Faz diferença a mudança do ritual, de você encontrar, estar frente a frente, ainda que muitas vezes, no processo de análise, deitado no divã, você não veja a cara do analista, nem ele a sua”, observa.

M. G. acrescenta: “Muda um pouco a forma de ser analisado. Se por um lado a sessão por Zoom é conveniente, ela rompe com a lógica e até com o preparo para a psicanálise. Quantas vezes já me vi indo para a análise pensando em assuntos. O Zoom impossibilita uma preparação, ir pensando na vida e nos temas.” Ele ironiza: “Conveniência é coisa de posto Ipiranga.”

Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia. 

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