As cidades brasileiras ainda não descobriram ou não exploraram por completo o poder da bicicleta para resolver o caos urbano. Contudo, cada vez mais camadas da sociedade têm aderido às vantagens do ciclismo no dia a dia, mesmo que o poder público ignore essa tendência. As razões para a escolha da bicicleta como meio de transporte podem variar, mas a eficiência no trânsito é um fator comum a todos os bairros e classes sociais.
Há quem diga que a bicicleta é uma moda passageira. Os opositores listam diversos motivos para questionar investimentos públicos em ciclomobilidade. Mas poucos são aqueles que merecem uma mínima reflexão. A maioria dos argumentos é risível. São posicionamentos típicos de quem não pedala e nunca vai pedalar. Por exemplo, a questão do clima ou da geografia montanhosa de algumas cidades. Quem adota a bicicleta como transporte sempre encontra uma solução prática e criativa para contornar esses obstáculos. Ladeira e sol forte estão longe de serem os maiores problemas para os milhões de ciclistas brasileiros que saem às ruas diariamente.
O pior é quando os opositores da mobilidade por bicicleta dizem que o Brasil não é a Europa, afirmando que nossas ruas são caóticas e nosso trânsito, violento. Ora, se a Europa é um ideal de civilidade, porque não fazer exatamente o que eles fazem? Os bons exemplos devem ser copiados sempre. Os europeus têm investido pesado em mobilidade por bicicleta, uma ação combinada com outras medidas que restringem o uso do carro e, consequentemente, reduzem a poluição, os gastos públicos e os engarrafamentos.
Por exemplo, Helsinque, capital da Finlândia, tem a meta de tornar carros particulares totalmente desnecessários até 2025, integrando em rede todos os modos de transporte do sistema público. Dessa forma, o governo pretende tornar todas as áreas da cidade acessíveis a pé ou de bicicleta.
Londres é outro exemplo de ações conjuntas para melhorar a qualidade de vida da população. A cidade implantou pedágios urbanos para carros, reduziu velocidade nas vias, investiu em transporte coletivo e criou uma política pública para o uso de bicicletas. O resultado foi a redução de 40% nas mortes e acidentes de trânsito, diminuição de engarrafamentos, melhorias na qualidade do ar e aumento no número de passageiros de ônibus, trem e metrô. A cereja do bolo é a previsão de que, em breve, o número de ciclistas irá superar o de motoristas. De 2000 a 2014, o aumento de ciclistas nas ruas da cidade foi de impressionantes 203%.
Exemplos de investimentos inteligentes e eficientes em mobilidade urbana nas cidades europeias não faltam, e a bicicleta dificilmente fica de fora dos planos. O pedal tem poder. Os europeus descobriram isso há mais de cinquenta anos. Aqui no Brasil temos todas as condições de repetir essa receita de sucesso. Basta que o poder público e certa parcela da sociedade resistente às mudanças se informem um pouco mais e aceitem que a cultura do automóvel particular é insustentável.
