A prática do jejum tem sido cada vez mais adotada por pessoas dispostas a emagrecer. Não faltam especialistas que a recomendam, desde que com acompanhamento médico, e em geral realizada de forma intermitente. Nada que se compare ao que fazem milhares de muçulmanos todos os anos no Ramadã, o mês sagrado em que celebram a revelação divina de Maomé. Nesse período, eles jejuam do nascer ao pôr do sol, em meio a orações. No hemisfério norte, isso pode significar vinte horas diárias sem comer durante trinta dias.
“Jejuar é bom para a saúde porque nos ajuda a focar em o que e quando comemos”, afirma à BBC o médico Razeen Mahroof, do Hospital Addenbrooke, em Cambridge, Reino Unido. “No entanto, embora um período de jejum de um mês seja bom, não é recomendável jejuar continuamente.” Mahroof explica o que acontece com o corpo durante os trinta dias do Ramadã, período que é ditado pelo calendário lunar, e que este ano vai de 13 de abril a 12 de maio.
O médico diz que os três primeiros dias são os mais difíceis. O corpo entra em estado de jejum após passar oito horas sem nenhuma alimentação. É o tempo que leva para absorver todos os nutrientes. Depois disso, passa a usar a glicose armazenada no fígado e nos músculos para produzir energia. Finda a glicose, começa a consumir gordura.
Nesses três primeiros dias, a falta de glicose causa fraqueza. São comuns também sintomas como dor de cabeça, tontura, náusea e mau hálito. E a fome é intensa.
Passado esse período, o corpo começa a se acostumar ao jejum. As células de gordura vão se rompendo e se convertendo em glicose no sangue. O perigo aí é a desidratação. Durante a quebra do jejum, deve-se tomar muita água e comer alimentos ricos em carboidrato e gordura, para produzir energia.
ORGANISMO SE ADAPTARIA APÓS DUAS SEMANAS
Do oitavo ao décimo quinto dia, o corpo está mais acostumado ao jejum e o humor costuma melhorar. Segundo Mahroof, o excesso de calorias que normalmente ingerimos pode impedir o corpo de alcançar um equilíbrio. “Isso é corrigido durante o jejum, quando o corpo consegue direcionar seus esforços a outras funções. Portanto, o jejum pode beneficiar o corpo ao facilitar a cura e a prevenção de infecções”, diz ele.
Após duas semanas de jejum, o organismo estaria adaptado ao processo. Cólon, fígado, rim e pele estariam desintoxicados. Com isso, a memória e o nível de energia tendem a melhorar.
“Como o jejum do Ramadã só ocorre do nascer ao pôr do sol, há oportunidades suficientes para nos reabastecermos com alimentos e fluidos provedores de energia. Isso preserva os músculos, mas também ajuda na perda de peso”, afirma Mahroof.
A quem não é muçulmano, o médico sugere um jejum parcial durante dois dias da semana seguido de alimentação saudável no restante da semana.
Laís Murta, nutricionista de São Paulo, aprova o jejum intermitente. Ao site Boa Forma, ela diz recomendar jantar mais cedo e tomar o café da manhã mais tarde no dia seguinte, o que ajudaria a perder gordura e emagrecer. Nada, portanto, que se compare ao jejum adotado por muçulmanos no mês do Ramadã.