A pandemia do coronavírus está mudando a cara da educação no Brasil. Apesar de o ensino à distância mostrar limitações que impediriam resultados de qualidade, a implantação de um sistema de educação híbrido, antes prevista para dentro de dez ou quinze anos, está sendo antecipada pela crise sanitária. Para isso, acaba de ser criada a Associação Nacional da Educação Básica Híbrida (Anebhi).
Disposta a potencializar a combinação dos ensinos presencial e remoto que configura o método híbrido, a presidente da Anebhi, Maria Inês Fini, pedagoga e ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, explicou ao Globo que o educador precisará usar todos os recursos disponíveis para praticar o hibridismo. “Idealizar um modelo único está fora de cogitação”, ressaltou, considerando as diferentes especificidades existentes no país.
O modelo, antes proibido na educação básica brasileira, está sendo recomendado pelo Conselho Nacional de Educação, com o objetivo imediato de reduzir o número de alunos nas salas de aula tradicionais e viabilizar o distanciamento social. Há opções com aulas gravadas ou ao vivo, transmitidas pela internet. Cada escola poderá escolher aquilo que lhe convém.
ESTÍMULO AO PENSAMENTO CRÍTICO
No Brasil, conforme o blog Tecnologia da Educação, uma das formas mais comuns e já adotadas de ensino híbrido ocorre por meio da chamada rotação de laboratório, que combina a sala de aula com conteúdos complementares de laboratórios de informática. A ideia é o aluno assistir à primeira aula no laboratório, mas usando o conteúdo online para ser introduzido ao tema. Já a aula seguinte inclui o auxílio do professor, compartilhado com os colegas. Uma segunda etapa permitiria ao estudante aprofundar o que aprendeu e aplicar os conceitos em projetos, debatendo o tema, fazendo exercícios de contextualização e tirando dúvidas.
O método estimula o aluno a pensar criticamente, a trabalhar em grupo e a ver mais sentido no conteúdo, o que lhe daria mais chances de aprender da maneira que lhe convém. Mesmo com a redução da carga horária das aulas presenciais, o professor se torna o mentor dessa busca pelo conhecimento, com a ampliação de seu tempo para se dedicar mais a cada aluno individualmente.
A teoria parece promissora, resta saber se a prática também será. Várias escolas já adotam o Geekie Lab, plataforma que reúne o conteúdo de todo o ensino médio e disponibiliza mais de 600 aulas em vídeos, textos e exercícios.
EXPERIÊNCIA JÁ FUNCIONA NOS EUA
Por aqui, governos estaduais e municipais ainda buscam um consenso sobre quando as escolas reabrirão, enquanto redes municipais de ensino discutem maneiras de revezar a presença dos alunos na sala de aula. Mas nos Estados Unidos o ensino híbrido não apenas está consolidado como reúne farta literatura. Um estudo de 2014 da Universidade de Minnesota mostrou que o tempo em sala de aula pode ser reduzido em até dois terços sem prejuízo ao aprendizado.
Paul Baepler, J.D. Walker e Michelle Driesssen, do Centro de Inovações Educacionais da universidade, são unânimes na assertividade do que chamam de uso de metodologias ativas de aprendizagem. “Podemos ampliar o alcance do número de estudantes nas salas de tamanho limitado do aprendizado presencial. Importa mais o que eles fazem nas aulas do que o tempo que passam nelas”, afirmaram. Os pesquisadores citaram o exemplo de uma sala pensada para 126 alunos, que pode ser usada por 375 estudantes pelo mesmo número de horas em um semestre.
A ativista de direitos humanos Cláudia Werneck, criadora da ONG Escola de Gente, no Rio de Janeiro – dedicada à comunicação de deficientes e uma referência em inclusão – considerou positivas as possibilidades e a agilidade do ensino virtual. Chamou a atenção, porém, para as dificuldades de alunos com deficiência auditiva: “As plataformas de ensino precisam oferecer, ao mesmo tempo, audiodescrição, libras e legenda.”
