Existem diversos estilos de organização doméstica, bem como há entre nós aqueles que não passam um dia sem lidar com a disposição dos objetos em casa, até os que adotam uma abordagem mais relaxada em relação à limpeza e organização. É fato, portanto, que algumas pessoas mantêm suas casas sempre arrumadas enquanto outras parecem viver sem problemas em meio ao caos. Mas entender como organizamos nossas casas pode nos ajudar a lidar com contradições que ocorrem no nosso dia a dia, e impactam diretamente na construção de um espaço seguro e significativo que podemos chamar de “lar”.
Segundo Delphine Dion (Escola de Negócios da Sorbonne), Ouidade Sabri (Universidade Paris-Est) e Valérie Guillard (Universidade de Paris Dauphine), “através de suas atividades de arrumação, as pessoas definem fronteiras simbólicas e guias que restringem suas atividades diárias e interações”. Mas o que essa afirmação significa na prática? Para entender como os sistemas de arrumação são desenvolvidos, os participantes de uma pesquisa conduzida pelas cientistas foram convidados a tirar fotos de áreas organizadas e desorganizadas em suas casas. Ao olhar para as fotos no laboratório, as pesquisadoras fizeram perguntas específicas para descobrir se essa pessoa poderia ou não tolerar a bagunça.
Os resultados mostraram que as pessoas criam regras de arrumação próprias usando sistemas de classificação que os ajudam a lidar com os objetos que continuam entrando e circulando em suas casas. Esses sistemas não necessariamente são os mesmos, ou sequer seguem os mesmos padrões, mas refletem o desenvolvimento de regras e mecanismos de enfrentamento que podem nos ajudar a lidar melhor com situações estressantes e com as adversidades.
Ou seja, a noção de um lar bagunçado é tomada a partir de um ponto de vista pessoal. Se as pessoas estão confortáveis em um ambiente desordenado, não cabe a agentes externos refletirem sobre os níveis de ansiedade presentes naquele espaço.
O consumo, porém, pode e deve se tornar uma atividade consciente. A partir da reflexão sobre os objetos e seus usos é possível implementar práticas de organização pessoal mais sofisticadas e que trazem mais felicidade a médio e longo prazo. O importante é ser capaz de pensar sobre esses hábitos e trabalhar duro para melhorar, sempre.