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Quando a mente é refém de lembranças falsas

A memória nem sempre é precisa. Por vezes, é inexata. Prega peças na gente. E  isso pode acontecer em larga escala, ou seja, um grupo de pessoas se prende a uma distorção da realidade – com frequência, sobre coisas insignificantes. Esse fenômeno é conhecido como efeito Mandela, e é possível que você seja vítima dele em algum momento da vida.

Especialista em saúde mental, Joanne Frederick explicou ao site mindbodygreen que o efeito Mandela se refere a uma situação ou evento que as pessoas acreditam equivocadamente que ocorreu. De algum modo, elas se convencem de que aconteceu, mas é uma lembrança falsa.

Foi em 2009 que a pesquisadora de fenômenos paranormais Fiona Broome cunhou o termo “efeito Mandela”. A falsa memória coletiva ganhou esse nome porque ela constatou que muita gente achava que o presidente sul-africano Nelson Mandela morrera na prisão nos anos 1980, quando na verdade ele faleceu em 2013, de infecção respiratória.

Desde então, o termo só fez ganhar popularidade. No site Reddit, há um subfórum sobre o tema com dezenas de milhares participantes. Eles compartilham histórias e discutem ideias. No livro Recursão (Intrínseca), Blake Crouch descreve um mundo assolado por uma doença intitulada Síndrome das Falsas Memórias.

 

LEMBRANÇAS INFLUENCIADAS POR INCLINAÇÕES E EMOÇÕES

A ciência ainda não sabe explicar ao certo os motivos do efeito Mandela, mas há algumas teorias – nem sempre científicas – sobre como isso acontece. Uma delas é de que as falsas memórias são um fenômeno comum da mente humana.

“Embora a ideia de memórias falsas deixe algumas pessoas desconfortáveis, os erros de memória são comuns”, afirma Frederick. “Sua memória não funciona como uma câmera catalogando imagens, afirmações e eventos da forma mais pura. Suas inclinações pessoais e emoções podem influenciar suas lembranças.”

Outra potencial explicação é algo a que a International Journal of Neurology and Neurotherapy chama de confabulação, termo que aqui se refere a uma “criação de memórias falsas na ausência de intenções ou engodo”. Em outras palavras, trata-se da disseminação de informações falsas sem a intenção de espalhar informações falsas, ou seja, acreditando que é verdade.

“A confabulação é um sintoma comum em distúrbios neurológicos que afetam a memória, como Alzheimer e outras formas de demência”, diz Frederick. “Quando uma pessoa que está sofrendo de demência confabula, ela não está mentindo de propósito nem tentando enganar ninguém. Na verdade, não tem a informação ou consciência necessária para recordar precisamente uma lembrança ou evento específico.”

 

UNIVERSOS PARALELOS E REALIDADES ALTERNATIVAS

Fiona Broome afirma que não se deve descartar uma terceira explicação, relacionada à paranormalidade, como universos paralelos ou realidades alternativas. Segundo Frederick, essa é uma explicação que tem origem na física quântica e na teoria das cordas.

“A teoria das cordas é, basicamente, uma estrutura teórica que explica a natureza da realidade e de todo o universo em termos de pequenas cordas que vibram em dez diferentes dimensões”, explica a especialista. Embora seja uma teoria altamente controversa, com base nela se pode afirmar que nosso universo é apenas um entre muitos outros universos potencialmente infinitos conhecidos como multiverso.

Relatos equivocados também poderiam explicar o efeito Mandela, o que a mídia social hoje em dia só faz intensificar, disseminando rumores. Foi assim que em 2020 se espalhou a mentira de que o rapper Eminem havia morrido.

Uma outra tentativa de explicar e entender o efeito Mandela é associá-lo a sonhos que parecem reais ou à sensação de que você sonhou com uma experiência, o que é chamado de déjà rêvé (não confundir com déjà vu). Você sente que sonhou com algo antes de acontecer e só se recorda disso quando isso acontece.

 

TENDÊNCIA A ACEITAR COMO FATO O QUE OS OUTROS DIZEM

Na maioria das vezes, diz a especialista em sonhos Leslie Ellis, os momentos de déjà rêvé estão dentro do território das experiências normais. “Mas eles também nos lembram que a vida, em qualquer momento, pode ser ou parecer extraordinária.”

No caso das memórias coletivas falsas, a complexidade é maior. Pelo menos em parte, isso é associado a uma tendência dos seres humanos a aceitar como fato o que os outros dizem. Somos facilmente sugestionados.

“Quando uma informação errada é introduzida”, diz Frederick, “ela pode comprometer a fidelidade de uma lembrança existente, e é precisamente por isso que um advogado pode se opor a perguntas orientadas que sugiram uma resposta específica num tribunal.”

O que se depreende é que a verdade pode ser inteiramente diferente de uma lembrança coletiva, mas quando um grande grupo de pessoas se lembra de um evento ou situação de uma certa maneira, esse grupo continuará a pensar assim, seja verdade ou não. Em circunstâncias assim, a falsa memória coletiva é causada pelo reforço e validação dos outros.

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