Imagine pegar um avião em São Paulo e chegar em Paris duas horas depois. A previsão é de que isso será possível a partir de 2026, com o lançamento comercial do Aerion AS3, uma aeronave supersônica que seria capaz de atingir 6.200 quilômetros por hora. Trata-se de uma velocidade seis vezes superior à do Boeing 747, capaz de percorrer 933 quilômetros no mesmo tempo, o que significa onze horas de viagem até a capital francesa.
A companhia americana Aerion informou que até o fim deste ano concluirá o projeto de design do AS3, que comportaria cinquenta passageiros. Já o AS2, um modelo para oito a doze passageiros, deverá realizar testes de voo em 2024 e entrar em operação também daqui a cinco anos.
“Nossa visão é construir um futuro onde a humanidade possa viajar entre quaisquer dois pontos do planeta em três horas”, afirmou Tom Vice, presidente da Aerion, em comunicado à imprensa. “O voo supersônico é o ponto de partida, mas é apenas o começo. Para realmente revolucionar a mobilidade global como a conhecemos hoje, devemos expandir os limites do que é possível.”
As três horas mencionadas por Vice se referem ao tempo de deslocamento previsto para os voos entre Los Angeles e Tóquio. Para que isso se torne possível, a empresa desenvolve conceitos de modelo e a incorporação de tecnologias que reduzam os impactos ambientais de um voo supersônico.
“Passamos dez anos pensando em fonte de energia, aerodinâmica avançada e motores, para que nosso avião queime a menor quantidade possível de combustível”, informou a Aerion.
ALTO CUSTO TIROU O CONCORDE DE OPERAÇÃO
A dedicação e o esforço da empresa em seus projetos se justificam por conta do que aconteceu com o Concorde, até hoje o único supersônico lançado comercialmente – em 1978. De fabricação franco-britânica, o avião atingia 2.158 quilômetros por hora. Em 2003, foi aposentado, depois de uma de suas peças – que estava na pista – entrar numa turbina e causar um acidente fatal.
O custo de fabricação e manutenção do Concorde era alto, assim como seu consumo de combustível. Consequentemente, as passagens eram caras, o que reduzia sua ocupação média a 50% da capacidade. Os motivos financeiros seriam os maiores responsáveis pelo término das operações do modelo.
Além disso, sua capacidade supersônica só podia ser ativada quando ele estava em cima do oceano. Isso porque sua potência era capaz de quebrar vidros de janelas de prédios e automóveis e ainda provocar falhas em sinais de telefone ao sobrevoar as cidades.
A Rússia também teve seu supersônico, o Tupolev Tu-144, que voou pela primeira vez em 1968, em plena guerra fria. Dois anos depois, tornou-se o primeiro avião comercial a ultrapassar a barreira do som – o que justifica o título de supersônico. No Ocidente, foi apelidado de Concordski. Os russos construíram 17 aeronaves desse modelo e realizaram 55 voos comerciais. Acidentes e altos custos também acabaram por inviabilizá-lo.
Os supersônicos começaram a ser desenvolvidos na segunda metade do século XX, de início para uso militar. Os caças são hoje os supersônicos que ainda podem ser vistos trafegando pelos céus. A aerodinâmica do voo supersônico é chamada de fluxo compressível, em função da compressão física ligada às ondas de choque, ou estrondo sônico, característico de qualquer objeto que ultrapasse a barreira do som.
Se os atuais voos de mais de dez horas para a Europa vão se tornar obsoletos, não se pode prever. Mas é bom lembrar que, na década de 1930, um voo do Reino Unido para a Austrália demorava onze horas e incluía nada menos que vinte escalas.