Tiramos muitas conclusões sobre as intenções de outras pessoas. Quando uma criança se dirige para a vitrine de uma loja, por exemplo, já antecipamos a demanda pelo objeto em destaque. Sabemos intuitivamente porque um amigo nos oferece a mão para levantarmos quando estamos no chão, ou a razão pela qual evitamos partes escuras e desertas das cidades.
Mas nem sempre essas conclusões estão corretas. Na verdade, essa tendência nos leva a nos apegarmos a falsos julgamentos sobre os outros e suas intenções. Por que isso acontece?
Prejulgamentos equivocados levam à frustração
Um estudo conduzido por acadêmicos da Escola de Psicologia da Universidade de Plymouth comprovou que a forma como “vemos” as ações dos outros é levemente distorcida por nossas expectativas. A pesquisa demonstrou que essas mudanças realmente refletem as intenções que atribuímos aos outros, e acontecem especificamente quando observamos outras pessoas, mas não quando observamos objetos ou animais.
Para o estudo, os participantes assistiram a breves vídeos de um ator pegando diretamente um objeto com as mãos ou fazendo um arco sobre um obstáculo. Antes de a ação ser concluída, a mão do ator desaparecia de repente, e os participantes identificavam o ponto na tela em que a viram pela última vez.
O truque era que, em algumas tentativas, a mão desviava do objetivo percebido. Ou seja, o que as pessoas viam estava claramente em conflito com suas expectativas.
Como demonstrado em trabalhos anteriores dos autores, os resultados mostraram que as pessoas foram capazes de julgar as ações esperadas com precisão. A percepção das ações inesperadas foi, no entanto, distorcida por suas expectativas.
O mesmo não aconteceu quando essa quebra de expectativa acontecia com objetos inanimados, como uma bola. Isso indica que as pessoas tendem a ver as ações humanas conforme já haviam antecipado, e não como se desenrolaram. Nossa percepção sobre o que os outros fazem é diretamente atribuída portanto ao que achamos que vai acontecer, e não ao que acontece de fato.
Importância social
A partir de pesquisas como essa podemos tirar conclusões mais complexas sobre a forma como agimos em sociedade. Se vemos uma pessoa se comportando de forma ambígua, mesmo os menores desvios em suas ações podem ser o suficiente para interpretarmos de forma errada o seu comportamento. Isso é especialmente relevante para pessoas neuratípicas, com autismo, bipolaridade ou comportamento esquizofrênico.
O caminho da tolerância deve ser melhor explorado para evitar esses problemas de interpretação. Nós somos facilmente enganados por pequenos desvios de comportamento, conforme a pesquisa demonstrou. Exercitar nossa capacidade de compreender o outro e trabalhar nossa frustração com a quebra de expectativas é fundamental.