Através da combinação de algoritmos de aprendizado profundo e métodos estatísticos, pesquisadores do Instituto da Universidade de Tartu, na Estônia, identificaram no genoma de pessoas oriundas da Ásia um ancestral de outro hominídeo, desaparecido há dezenas de milhares de anos.
Há cerca de 80 mil anos, durante o período das migrações das populações humanas modernas da África para a Eurásia, houve uma mescla entre esses povos e os hominídeos neandertais (na Europa) e denisovanos (na Oceania). Mas, através do uso de redes neurais de aprendizado profundo na análise do DNA humano, a pesquisa apontou para a existência de uma terceira espécie extinta de hominídeos.
Redes Neurais Profundas
O uso de inteligências artificiais na análise de modelos demográficos foi fundamental para essa descoberta. O aprendizado profundo é um algoritmo de inteligência artificial que simula uma rede neural, na qual neurônios artificias se especializam em detectar padrões. Esses algoritmos já são usados em sistemas de reconhecimento facial, identificação por voz e em análises complexas de dados.
Até bem recentemente não haviam ferramentas estatísticas confiáveis para analisar o genoma humano. Mas, com a popularização e o aumento da rapidez das redes neurais profundas, esse cenário começou a mudar. Durante a pesquisa, os cientistas forneceram ao algoritmo de aprendizado profundo genomas obtidos através de centenas de milhares de simulações. A cada simulação, era escolhido um caminho na história da evolução para chegar ao resultado. O aprendizado profundo juntava portanto as peças do quebra-cabeça, apresentando novos caminhos para os pesquisadores. Como a escala das simulações era muito extensa, seria impossível computar essas informações sem o uso dessa tecnologia.
Dessa forma a análise revelou a existência de um terceiro hominídeo extinto. Em julho do ano passado foi confirmada a existência de um híbrido entre as populações neandertal e denisova. Esse homínideo coexistiu com os seres humanos modernos durante o período das migrações há dezenas de milhares de anos. Ainda não se pode afirmar com certeza se essa nova espécie de hominídeo é descendente dessas duas populações, embora a inteligência artificial aponte para esse caminho.
A descoberta é importante não apenas do ponto de vista arqueológico, mas pelo uso de uma nova tecnologia para desvendar o passado. O estudo abre caminho para a aplicação de inteligências artificiais em campos do conhecimento mais diversos, como biologia, genética e pesquisas sobre os processos evolutivos. As possibilidades para a inovação são muitas.