Mudanças de hábito com o intuito de reduzir as emissões de carbono têm sido cada vez mais comuns. Muita gente tem procurado usar menos o carro, viajar menos de avião e comer menos carne, para citar três atitudes frequentes. Mas ultimamente uma medida mais incisiva motivada pela mesma preocupação ambiental vem sendo observada, pelo menos na Europa: a mudança de profissão.
Para o britânico Todd Smith, de 32 anos, pilotar aviões era um sonho acalentado desde a infância, e uma carreira na qual estava se realizando. Ele contou à BBC que quando a empresa aérea para a qual trabalhava, Thomas Cook, fechou as portas em 2019, sua preocupação com a mudança climática já era grande.
“Comecei a ligar os pontos e me vi num conflito desconfortável”, disse ele. “Queria me envolver com o Extinction Rebellion [grupo de protestos ambientalistas], mas sabia que isso seria o suicídio da carreira e tinha muitas dúvidas.”
A crise nas companhias aéreas causada pela pandemia foi o empurrão que faltava. “É claro que eu prefiro voar, visitar lugares exóticos e ganhar um salário decente”, afirmou Smith. “Mas quando sou confrontado com a emergência climática e ecológica, como poderia priorizar minhas necessidades quando precisamos pensar coletivamente em enfrentar a maior ameaça existencial da humanidade?”
ENERGIAS RENOVÁVEIS EM VEZ DE PETRÓLEO E GÁS
Hoje, o ex-piloto é ativista ambiental, porta-voz do Extinction Rebellion e cofundador do Safe Landing, movimento para conscientização ambiental dos trabalhadores do setor aéreo. Para ele, a mudança profissional “foi catártica” e reduziu sua ansiedade.
Na Dinamarca, Nader Beltaji, de 33 anos, deixou um emprego de dez anos na indústria de petróleo e gás para abraçar uma carreira de baixa emissão de carbono. Ele assumiu o cargo de gerente de projetos da RWE, uma empresa gigante de energias renováveis.
“Minha tese de mestrado foi sobre energia solar e eu queria ir nessa direção, mas na época não havia muitas oportunidades que chamassem minha atenção”, contou ele. “Agora a paisagem mudou completamente.” Para Beltaji, a impressão é de que a indústria de petróleo e gás “está morrendo”.
Foi também a consciência ambiental que levou a britânica Rachel Bowcutt a trocar o cargo de gerente de operações da Royal Association of British Dairy Farmers – uma associação de laticínios – para assumir um trabalho na Vegan Society, instituição vegana que é praticamente uma inimiga da indústria para a qual ela trabalhava.
ESTÍMULOS A UMA FORÇA DE TRABALHO VERDE
Bowcutt contou que se tornou vegana depois de ler um relatório da Universidade de Oxford segundo o qual a dieta vegana é “provavelmente a melhor maneira de reduzir o seu impacto sobre o planeta Terra”. A mudança na alimentação a fez se sentir desconfortável com o trabalho que exercia, e que ela também passou a associar aos maus-tratos a animais, por conta da idade com que os bezerros eram separados de suas mães.
“Tudo aquilo parecia um pouco desnecessário em termos de bem-estar animal e impacto ambiental. Cheguei a um ponto em que pensei que aquilo não era mais para mim e me perguntei se havia uma organização equivalente para veganos – e o emprego apareceu.”
Ela avaliou a mudança: “Tenho muito mais confiança no trabalho no qual estou envolvida. Posso ver os benefícios, é mais fácil promover e é um assunto no qual realmente acredito.”
Para o ativista do clima Denis Fernando, do Friends of the Earth, “há uma emergência climática e precisamos de ações drásticas para fazer as coisas acontecerem”. Por isso, são cada vez mais necessários os estímulos a uma força de trabalho verde.
Fernando observou que o trabalho com atitude ambiental pode estar em diferentes campos, desde usinas de energia eólica até conserto de bicicletas, passando por serviços de transporte ferroviário de cargas, em detrimento do transporte aéreo. Ele acrescentou: “Precisamos realmente pensar na grande agenda da qual todos podem participar.”
Com informações do artigo de Suzanne Bearne para a BBC.