Como você tem se sentido durante o isolamento? Ficou ansioso? Mais cansado diante do inexorável trabalho ou estudo online? Entediado com o cenário do confinamento? Ou conseguiu fazer novas descobertas sobre si mesmo, apreciou o ar menos poluído e avançou nas sessões remotas de terapia?
Muita gente tem tido essas sensações, como atestou a pesquisa “Emoções em quarentena”, realizada pela empresa de estratégia criativa Wonderboom, da blogueira de moda e beleza Camila Coelho, que tem mais de 3 milhões de seguidores. Iniciado em 18 de março, o levantamento foi realizado durante 13 semanas. Em cada uma delas, foram ouvidas cerca de 800 pessoas, num total de mais de 10 mil participantes. A pesquisa contou com a parceria dos escritórios de pesquisa Huma e Maré.
Ansiedade e preocupação foram os primeiros sentimentos que vieram à tona, seguidos por tédio e cansaço. Também foram abordados temas como libido, autocuidado, alimentação, solidariedade, sono e consumo online. Os pesquisadores observaram que quanto menor o salário, mais intensas eram as sensações negativas. “A pandemia escancarou a desigualdade social, até mesmo na intimidade”, constatou Camila.
SENTIMENTOS COMPARTILHADOS POR MUITOS
A pesquisa não envolveu interesses comerciais. O que norteou os questionários foi o súbito turbilhão que tomou conta do planeta, levando ao fechamento de escolas e espaços de lazer, ao crescimento do uso de home office e à substituição da ida a restaurantes pela entrega de comida em casa.
Os resultados mostraram que muitos compartilham os mesmos sentimentos estranhos nesses tempos de coronavírus. “Há um lugar-comum, apesar das particularidades de cada história”, afirmou a blogueira. “Comprovamos que há novos sentimentos majoritários, comuns a todos, e que não eram fortes antes da quarentena.”
A maioria dos entrevistados descreveu fortes oscilações de humor e metade deles sentiu diminuição do desejo. Por outro lado, pessoas disseram que começaram a meditar, cozinhar, fazer sexo virtual e até a mandar nudes pela internet. Muitos aproveitaram para se despojar de antigos rituais, como depilação, uso de desodorante, perfume, maquiagem e protetor solar. Não foi, contudo, um despojamento geral. A maioria continuou a usar roupas diferentes ao longo do dia. Pijama, só para dormir.
BONS RESULTADOS EM TERAPIA À DISTÂNCIA
Mais da metade dos entrevistados relatou dificuldade de dormir e 12% recorreram a remédios por causa disso. Foi o caso de Emily Bezerra, analista de sistemas de 26 anos. Ela contou que antes do isolamento dormia bem e acordava com despertador. Mas passou a ter sonhos estranhos que lhe roubam o sono. “Por vezes, não durmo a noite toda, o que tem me deixado muito cansada durante o dia, com dores de cabeça e rendimento prejudicado”, disse.
Em sua coluna no Globo, o jornalista Nelson Motta relatou surpreendentes resultados nas consultas remotas de uma amiga psicanalista. “Separados pela distância, os pacientes se abriram mais, as sessões se tornaram muito mais produtivas”, comentou ele.
Foi mais ou menos o que constatou a terapeuta carioca Zoé de Freitas. “Acabou aquele silêncio do consultório. Diante da tela, intervalos são confundidos com queda de linha”, disse ela ao Revolution Club. “Também passei a atender a maioria dos pacientes a cada 15 dias, porque a consulta deixou de ser um recorte do dia a dia, passou a chegar mais a visão do todo, um material mais denso”, acrescentou.
Além de relatos sobre declínio de libido, perda de sono e maior uso de álcool, drogas e remédios, Zoé tem se deparado com um predomínio de ansiedade no consultório, mais comum, segundo ela, entre aqueles que não estão vivendo o presente e sofrem com o passado e a incerteza do futuro. “A sensação permanece até a pessoa encontrar e identificar o fantasma do medo. Ela cria então coragem para lidar com esse medo e consegue se libertar da ansiedade”, explicou. Ou seja, há luz no final do túnel, é só procurar.
Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia.