É possível preservar a Amazônia e ainda garantir uma produção agrícola promissora na região. Um estudo realizado no Acre mostrou que a agrofloresta gera o dobro de benefícios econômicos, sociais e ambientais que a criação de gado ou o plantio de soja. À frente desse trabalho está a ONG WWF-Brasil, em parceria com a Universidade do Acre (Ufac), a secretaria estadual de Meio Ambiente do Acre (Sema) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O estudo comprova que o desenvolvimento econômico da Amazônia pode ser conquistado com a floresta em pé, com geração de empregos e melhoria da qualidade de vida. A agrofloresta comunga culturas agrícolas e floresta. É um sistema sustentável e que ainda recupera as matas.
Foram testados dois modelos em áreas distintas, uma delas com solo mais degradado que a outra, ambas na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri. Um dos solos apresentou o mesmo rendimento anual da soja. O outro rendeu o dobro.
As duas áreas de agrofloresta foram criadas na comunidade Altamira, Seringal Nova Esperança. Ali, doze famílias participam de um projeto de fomento ao plantio de seringueiras junto à Cooperativa de Comercialização Agroextrativista do Acre (Cooperacre). O projeto visa a fornecer borracha à unidade industrial da cooperativa.
RETORNO DE INVESTIMENTO EM DOIS ANOS
A Cooperacre colaborou com o preparo do solo e a aquisição e distribuição de mudas enxertadas de seringueira e sementes de adubos verdes. O WWF-Brasil viabilizou oficinas, intercâmbios e assistência técnica às famílias, em parceria com Ufac, Embrapa e Sema. Mudas de árvores nativas foram produzidas no Parque Zoobotânico da Ufac e num viveiro temporário criado especialmente para a iniciativa.
As contas finais não deixaram dúvidas. Numa área onde havia indícios de erosão e solo ácido e pobre em nutrientes, para cada real investido, o retorno de cada família foi de R$ 1,60 ao fim do ciclo produtivo. Os cultivos ali foram de feijão, gergelim, margaridão e ingá-de-metro. Na outra área, menos degradada, o resultado foi ainda melhor: o retorno por família foi R$ 2,3. O plantio, nesse caso, foi de araçá-boi, camu-camu, cacau, açaí, seringueira e cupuaçu.
O estudo mostrou que o retorno do investimento ocorre em dois anos. Já a rentabilidade estimada por hectare por vinte anos é o dobro daquela proporcionada pela soja. Os dois sistemas analisados provaram ser viáveis técnica e financeiramente, além de atraentes como alternativas de investimento, com alto potencial de geração de trabalho e renda.
O WWF-Brasil relatou: “A mão de obra representa a maior parte dos custos totais das áreas avaliadas, o que indica o alto potencial de geração de trabalho e renda nesses sistemas, o que permite remunerar a mão de obra da própria família, com oportunidade de inclusão social e produtiva das mulheres e jovens residentes na área rural.”