Uma equipe internacional de cientistas afirmou que um medicamento para câncer, plitidepsina (Aplidina), provou ser uma arma poderosa no combate ao coronavírus. Em estudo liderado pelo virologista espanhol Adolfo García-Sastre, do Hospital Monte Sinai, em Nova York, os pesquisadores mostraram que o remédio é cem vez mais potente que o remdesivir, o primeiro antiviral aprovado para tratar a Covid-19, com eficácia limitada.
Até agora, o único medicamento que se mostrou capaz de reduzir a mortalidade pelo coronavírus teria sido o corticoide dexametosona, usado no tratamento do ex-presidente americano Donald Trump. Trata-se de um remédio que não ataca o vírus, e sim as reações inflamatórias provocadas por ele.
A plitidepsina é uma droga sintética produzida a partir de uma espécie de ascídia, animal invertebrado hermafrodita que se fixa em pedras, encontrado no Mar Mediterrâneo. Foi desenvolvida pela empresa farmacêutica espanhola PharmaMar para tratar mieloma múltiplo, um câncer que atinge o sangue e, por isso, espalha-se rapidamente pelo organismo. A Austrália é o único país que autoriza seu uso.
EFICÁCIA SE ESTENDERIA A VARIANTES DO VÍRUS
Com a pandemia, a PharmaMar começou a estudar possibilidade de ampliar o uso da plitidepsina, pesquisando sua eficácia contra o coronavírus. Os primeiros resultados entusiasmaram os pesquisadores, que constataram uma acentuada queda da carga viral em pacientes hospitalizados, portanto em estado avançado da doença.
“Acreditamos que os nossos dados e os resultados positivos iniciais do ensaio clínico da PharmaMar sugerem que a plitidepsina deve ser seriamente considerada para ensaios clínicos ampliados para o tratamento da Covid-19”, declararam os pesquisadores.
A plitidepsina não age diretamente contra o vírus, mas sim atacando uma proteína humana usada por ele para sequestrar componentes de células e fabricar milhares de cópias de si mesmo. A molécula do medicamento bloqueia a proteína EF1A e, sem ela, a replicação do vírus não ocorre. Por isso, a droga seria eficaz contra diferentes variantes do coronavírus.
“O mecanismo molecular contra o qual esse fármaco é dirigido também é importante para a replicação de muitos outros vírus, incluindo o da gripe e o vírus sincicial respiratório”, disse García-Sastre em comunicado.
O estudo envolveu cientistas dos departamentos de microbiologia e biologia celular, regenerativa e de desenvolvimento da Escola de Medicina Icahn do Monte Sinai, do Instituto de Biociências Quantitativas da Universidade da Califórnia e do Instituto Pasteur, em Paris.