Pense em algo que você deseja fazer e alcançar, mas que esteja difícil por diferentes razões. E que esteja lhe deixando tenso, ansioso, dormindo mal, comendo mais açúcar, inseguro em relação ao resultado.
Agora, lembre de um momento em que você estava calmo, com suas emoções sob controle, otimista diante de um obstáculo e mantendo a mente focada em sua meta.
Se você pudesse levar esse estado de calma e otimismo para a situação em que está tendo dificuldade, o que aconteceria? Mudaria alguma coisa?
Isso é, inclusive, um truque, uma ferramenta de programação neurolinguística (PNL). Mas o que dificulta a aplicação dessa ferramenta é que não a treinamos. E quando a mente não treina a calma e o domínio sobre o foco quando estamos sob pressão de alguma situação, ela tende a ficar mais dispersa, mais confusa, menos clara. Como se tivéssemos um nevoeiro na cabeça.
Nosso cérebro límbico se apavora. E como ele é muito mais rápido que o nosso racional, nos faz reagir impulsivamente.
É muito importante o treino do controle sobre a mente, sobre as emoções, porque uma vida sem obstáculo não é real. Nem em filme de Hollywood. Um filme sem obstáculo não atrairia interesse, porque não teria emoção. Uma vida totalmente sem desafio também causa estresse.
Os filmes de Hollywood costumam ter dois ingredientes: intenção e obstáculo. Essa composição nos faz ficar ligados, torcendo. Intenção e obstáculo também devem existir em nossas vidas, porque geram uma fricção que nos impulsiona a ir adiante. Alongam nossa potencialidade. Se a intenção não for clara e com comprometimento, poderá haver apenas obstáculos ou mesmice, marasmo, repetição.
Uma pessoa me escreveu contando sobre a tendência de sua mente para a compulsão – comida, compras etc. Sem entrar no tema mais profundo das compulsões, eu diria que uma mente ansiosa, nervosa, inquieta, é uma mente em um estado de insatisfação que busca algo no externo para se acalmar. Busca um alívio que é apenas momentâneo, mas no momento parece ser a solução. E essa mente geralmente não persiste por muito tempo em uma prática, justamente porque é uma mente que se acostumou com o alívio imediato.
Erico Rocha diz: primeiro fazer, depois melhorar. Primeiro se adquire frequência e depois se alcança excelência. Fred Kofman fala o mesmo. Mathieu Ricard também.
Erico Rocha afirma: “Tem que ter paciência, que não é sentar e esperar, é fazer por longo prazo sem obter resultado. A tartaruga vai no seu tempo, mas vai sempre. No dia em que aprende, leva isso para o resto da vida.”
Mas estamos falando de uma mente aflita, que quer logo. Agora. Que não se disciplinou. Como resolver? É preciso trabalhar a cada dia, como nos alcoólicos anônimos. Ir acostumando a mente aos poucos. E ir celebrando cada passo, por menor que seja. Ir como James Clear afirma em seu livro Hábitos atômicos: conquistando 1% a cada dia. Esses 1% vão se somando e criando confiança em si mesmo.
Mas é preciso comprometimento. “Comprometimento mais consistência gera transformação.” Pode ser a consistência de um dia, mas que seja.
Na Jornada para Autoliderança, que realizei, fiz um questionamento fundamental: Com o que estou comprometido? Com a compulsão ou com a liberdade? Porque a compulsão é um aprisionamento.
Muitos de nós estão sempre em estado de estresse, preocupação, turbilhão de pensamentos, com alimentação e sono alterados, sem energia. Então você pensa que isso é o normal. Você se acostuma e não imagina que possa ser diferente. Mas o fato é que pode.
Herbert Benson, pesquisador da Universidade de Harvard, concluiu em suas pesquisas que a natureza da mente é serena. Serenidade é um estado inato, que surge desde que tenha as condições necessárias. Todo o nosso potencial se manifesta desde que haja as condições necessárias. As plantas são um exemplo disso.
No estado de calma, todo o organismo se organiza. Os sistemas imunológico, endócrino e circulatório se beneficiam.
Outra pessoa me pediu uma sessão de coaching e desabafou sobre vários problemas em sua vida. Ocorre que muitas vezes não percebemos a essência do problema e ficamos nos apegando a diferentes fatos. Isso acontece quando a essência é uma mente dispersa, indisciplinada, sem foco.
Essa pessoa me falou também que se sentia sem energia para lidar com todas as situações. Escutando-a com foco e atenção, percebi que não se tratava de falta de energia, mas de energia dispersa, espalhada para vários lados, sem direção clara. Tratava-se de um mau uso da energia.
É uma sabedoria reduzir os problemas à sua essência. É isso que um coach faz.
A maioria das pessoas vai vivendo e não se dá conta da essência da questão. E isso significa viver sem nenhuma liderança sobre si mesmo.
Viver a vida com design é autoliderança. Defina como você quer que sua vida seja.
Mas isso não é possível sem você perceber e entender a si mesmo. E não é possível perceber e entender a si mesmo com uma mente em turbilhão.
É preciso, primeiro, acalmar a mente. E depois desenhar o futuro que você quer.
Berenice Kuenerz é psicoterapeuta e coach de life-businesss e mindfulness.
