Ao compararem os efeitos de exercícios de musculação sobre adultos jovens que mantinham dietas veganas e onívoras, pesquisadores da Universidade de São Paulo constataram resultados semelhantes em termos de ganho de massa e força muscular. Em suas análises clínicas, eles concluíram que, para ganho muscular, a quantidade de proteína ingerida é mais importante do que a origem do nutriente.
Durante três meses, os pesquisadores monitoraram 38 voluntários saudáveis com dietas de teor proteico considerado adequado – 1,6 grama por quilo de peso corporal – e praticantes de musculação. Metade deles mantinha uma dieta mista, com proteínas animais e vegetais, enquanto a outra metade comia exclusivamente alimentos à base de plantas. Todos receberam suplementação proteica.
“Nosso achado mostra que, se ingerirem a quantidade adequada de proteína, jovens adultos veganos não têm prejuízo no ganho de massa muscular. Na realidade, o resultado das duas dietas foi igual”, afirmou Hamilton Roschel, um dos autores do estudo, à Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Roschel – um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da Escola de Educação Física da USP – assinalou, porém, que é mais difícil alcançar a demanda proteica quando se mantém uma dieta vegana. Para equalizar o aporte proteico dos participantes do estudo, os pesquisadores lhes deram suplementos em quantidade calculada de acordo com a necessidade e alimentação de cada um. Os veganos receberam proteína de soro de soja. Os onívoros, proteína de soro de leite.
ALIMENTAÇÃO E EXERCÍCIO FÍSICO REGULAM O EQUILÍBRIO PROTEICO
O pesquisador explicou que a qualidade da fonte proteica está relacionada a aminoácidos, em especial a leucina, fundamental para a estimulação anabólica dos músculos. “As proteínas de origem animal têm mais leucina do que as de origem vegetal”, disse. “Como esse aminoácido é essencial no processo de sinalização do estímulo anabólico, especula-se que uma alimentação à base de vegetais resultaria em menor conteúdo de leucina e, portanto, a um estímulo anabólico também reduzido, o que afetaria o potencial de indivíduos veganos de ganhar massa muscular.”
A alimentação e o exercício físico, disse Roschel, são os principais reguladores do equilíbrio proteico. “Na prática clínica, sabe-se que alimentos de origem animal são, em geral, mais densos em proteína. Dessa forma, carne, leite ou ovos apresentam mais proteína por grama de alimento que o arroz ou o feijão, por exemplo.” Por isso, acrescentou ele, os veganos precisariam ingerir um volume maior de alimentos para obter a mesma quantidade de proteínas, o que em alguns casos pode ser um desafio.
“Esse nosso achado reforça outros dados da literatura que apontam que uma dieta vegana é absolutamente possível de ser completa, se bem executada e planejada”, afirmou o pesquisador. “Estudos anteriores sugerem que ela é, inclusive, possivelmente mais saudável do que uma dieta onívora. Entretanto, para isso, é necessário acompanhamento nutricional adequado e até mesmo um processo de educação nutricional acerca das escolhas que o indivíduo deverá fazer ao restringir sua alimentação a fontes vegetais.”
O estudo realizado fez parte do mestrado da pesquisadora Victoria Hevia-Larrain. Teve apoio da Fapesp e foi publicado na revista Sports Medicine.
