O estresse é uma reação natural do organismo quando vivenciamos uma situação que ele entende como perigo ou ameaça. Esse mecanismo de alarme nos coloca em um estado de alerta, provocando alterações físicas e emocionais.
Cada um de nós tem um nível de resistência ao estresse. Mas esse nível pode ser alongado à medida que nós nos trabalhamos emocionalmente e nos tornamos mais resistentes e mais hábeis para lidar com o estresse.
Toda a situação da pandemia e suas consequências têm produzido um desequilíbrio em nosso organismo. Excesso de preocupação, pressão de diferentes causas, problemas de relacionamento, problemas ou ameaça no trabalho, as notícias, etc.
Dor de cabeça, gastrite, transtornos intestinais, baixa imunidade, tontura, perda de libido, distúrbios dermatológicos, sudorese excessiva, perturbação no sono, ansiedade, angústia e desânimo podem estar associados a estresse.
Por incrível que pareça, uma situação boa, mas nova, também pode produzir estresse, porque traz a condição de desconhecida e, portanto, ainda fora de nosso controle.
Nem todo estresse é negativo. A ausência total de estresse também causa estresse. O estresse benéfico é chamado de eustresse, e nele também há liberação de cortisol, adrenalina e noradrenalina. Já o distresse é um termo da psicologia e da psiquiatria para o estresse excessivo, que é maior do que o organismo possa suportar ou de tal forma contínuo que o organismo não se recupera. Causa transtornos de humor e outras alterações no organismo, tanto em seres humanos como em animais.
O cérebro, numa rapidez de milésimos de segundos, avalia o grau do desafio em relação a sua capacidade de resposta e se prepara velozmente antes que tenhamos consciência da coisa.
O organismo tem um mecanismo automático para retornar ao estado normal, passada a ameaça. Isso foi desenvolvido, de forma perfeita, desde os tempos de nossos ancestrais das cavernas. Naquela época, o término do perigo era claro e evidente. O leão apareceu, o leão foi embora.
Hoje, o término do perigo, da insegurança, da ameaça, não é claro, é difuso, o que muitas vezes faz nosso organismo permanecer em alerta, sem descanso. Isso causa um constante estado de estresse.
Imagine um elástico que você estica e depois volta ao normal, e faz isso várias vezes, sem problema. Mas se você o estica e o mantém esticado por horas, dias, meses, ele começa a esgarçar e acaba arrebentando. É assim que acontece com o estresse.
Por isso, temos que ter truques, ferramentas, práticas, para que, nem que seja por pouco ou pouquíssimo tempo, o elástico não esteja sendo esticado. Para que você suspenda por algum tempo a tensão. Brechas, pausas, intervalos.
Faça uma pausa para um café, um chá, uma respiração, uma música, um nada, um olhar pela janela, um mover-se. Qualquer uma dessas coisas funciona como uma informação de descanso rápido para seu cérebro, antes que ele entre em parafuso e você perca o controle.
Cada um de nós tem que descobrir o que funciona melhor para si para baixar a bola. Mas é preciso usar, praticar, incorporar.
Fiz uma pesquisa com a pergunta: Você costuma parar e respirar com consciência quando está estressado? Quase todos responderam não.
Sei que quando estamos muito estressados com algo, é difícil se acalmar. Nós nos enrolamos em nosso próprio estresse.
Portanto, é importante cada um aprender a reconhecer quando está chegando a um ponto em que estica demais o elástico, para regulá-lo. Isso significa lidar estrategicamente com o estresse. Fazer uma pequena pausa, sentar na varanda para olhar as plantas, respirar, meditar, caminhar na praia, fazer pilates.
Outro dia, eu estava me sentindo estressada e dispunha de apenas trinta minutos livres antes de sair. Pensei: se eu for à praia, não vai dar tempo de tomar banho. Pois fui, caminhei na areia uns vinte minutos, lavei os pés, me vesti e saí. Foi uma opção perfeita. Deu certo.
Você não consegue não ter estresse, então precisa aprender a cuidar para que ele não se torne crônico.
Pouco depois de iniciada a pandemia, Fred Kofman, presidente do Conscious Business Center International, reuniu sua comunidade, a qual pertenço. Nesse encontro, ele nos falou coisas importantes e úteis. O que eu escutei com atenção e registrei é que estamos numa espécie de maratona que não sabemos quando termina.
Quando entramos num processo assim, é importante aceitar tudo o que vem: incerteza, medo, ansiedade, tristeza. Porque excluir algumas coisas não é aceitar. É importante entender que nesses momentos os processos se aceleram e precisamos aprender a lidar com eles.
Precisamos aprender a não ter medo do estresse, porque ele está nos dizendo: “Preste atenção. Há algo acontecendo que exige cuidado.” E assim não saímos espalhando estresse para todo lado.
É preciso estar em paz com o seu estresse. Se você aprende a cuidar dele, pode sair da crise com outra dimensão interna. Você está tendo a oportunidade de lidar com o estresse na prática, não na teoria.
O obstáculo pode ser visto como um caminho, e não como algo que se interpõe no caminho e que queremos tirar a todo custo.
Kofman contou uma experiência que teve numa maratona em Nova York. Ele não calculou bem a distância e foi dando tudo o que tinha. Pensou, “Bem, quando terminar eu me recupero”. Mas o fim não chegava. O percurso era maior do que imaginava.
Então, o primeiro ponto a observar é avaliar a energia para chegar ao final, porque não sabemos o quanto ainda falta. Ainda mais se não houve uma preparação, como é o caso da pandemia.
Precisamos estar conscientes dos “vazamentos” e dos “nutrientes” de energia. Evitar acréscimos desnecessários ao estresse. Por exemplo, notícias e pessoas tóxicas. Ambientes tóxicos.
Precisamos estar conscientes de onde escolhemos colocar nossa atenção, porque nosso foco de atenção interfere em nossa energia, em nosso estado de ânimo. Você se converte naquilo onde sustenta seu foco. Ter controle sobre seu foco é autoliderança.
Quando estamos numa situação difícil, buscamos soluções no que já sabemos. E muitas vezes a solução está no que ainda não sabemos, ou sabemos mas não experimentamos.
É importante aceitar a realidade do desafio, negociar com o desafio. E não o classificar de cara: “Muito difícil, não consigo, não dá.” Numa luta, primeiro observamos o adversário, sondamos o adversário. Isso é estratégia.
O desafio é sempre neutro. Para um, pode ser difícil. Para outro, nem tanto. Quando resistimos de cara, não funcionamos bem. Essa resistência cria uma tensão dentro de nós que nubla a mente.
A resistência está a serviço de nosso sistema límbico, que quer nos proteger, mas não tem capacidade estratégica, não tem capacidade de planejamento.
Quando resistimos, gastamos uma energia que poderia ser usada para a solução. Analise a situação, examine suas forças e, quando sentir a mente calma, monte a estratégia. Se ficar apavorado diante do desafio, tenderá a vê-lo maior do que é, ou sem nenhuma chance.
Quantas guerras em que os recursos eram insignificantes foram vencidas com estratégia. Tome distância da situação e se pergunte: O que posso fazer? O que é possível fazer diante disso?
O que você diria a uma pessoa nessa situação, se o nível do desafio fosse maior do que sua musculatura? Você diria, “Fique estressado e desista de conseguir alguma coisa”? Ou diria, “Use os recursos que tiver, e um dos recursos é sua energia. Use-a com inteligência, com estratégia para chegar ao final”?
Algumas estratégias que aprendi com diferentes mestres:
- Não se vitimize, porque isso não resolverá e você ficará fraco.
- Tome a primeira ação, mesmo que pequena, mas não fique paralisado.
- Não procrastine. Isso traz frustração e descrença em si mesmo.
- Divida o problema em partes, porque ele fica em tamanhos mais fáceis de lidar e não assustam tanto.
- Se você não é tão forte, nem tem muitos recursos para lidar com esse problema, use estratégia.
- Não foque no resultado ou no final. Foque em cada passo. Foque no processo e na aprendizagem.
Em momentos de estresse, de decisões difíceis, lembre-se de usar um valioso recurso de sua propriedade, disponível 24 horas por dia: sua respiração. Seguem três práticas de respiração que podem ajudar:
- Simplesmente traga a atenção de sua mente para o movimento de inspirar e expirar. Não interfira na respiração, apenas a observe.
- Respiração por contagem: Inspire e mentalmente conte 1, expire e mentalmente conte 1. Inspire e mentalmente conte 2, expire e mentalmente conte 2. E assim vá sucessivamente até 10. Perdendo-se no meio do caminho, recomece. Vá dando outro foco a sua mente, ao mesmo tempo que você a disciplina.
- Respiração Quadrada: Inspire enquanto mentalmente conta 1,2,3,4. Sustente o ar enquanto mentalmente conta 1,2,3,4. Expire enquanto mentalmente conta 1,2,3,4. Mantenha o vazio de ar enquanto mentalmente conta 1,2,3,4. Recomece.
Kofman ensina: Fazer-se amigo do esforço é ter visão de longo prazo.
Uma estratégia que não falha é encontrar um sentido que abra uma nova visão que vá além do estresse, que ajude a lidar com o estresse. Queremos sobreviver à pandemia, à incerteza, ao estresse, à pressão, à angustia, ao que seja, para quê? O importante é saber qual é o “para quê?” que nos levará ao “como” lidar com o estresse, para que ele não nos derrube, mas sim seja uma força propulsora.
Berenice Kuenerz, psicoterapeuta e coach de life-business e mindfulness.