Um novo estudo está entre os primeiros a traçar as conexões moleculares entre genética, flora intestinal e memória. Pesquisadores descobriram que o microbioma intestinal pode se associar à genética para afetar a memória, respondendo de formas diferentes à introdução de lactobacilos.
Quando consumimos alimentos probióticos, experimentamos vários benefícios para nossa saúde, que vão desde o aumento da nossa disposição geral, melhora de humor e das funções intestinais. Esses micróbios produzem moléculas que viajam através do sangue, e agem como mensageiros químicos que influenciam outras partes do corpo, incluindo o cérebro. Mas, até agora, não estava claro quais microorganismos específicos e mensageiros moleculares microbianos poderiam influenciar a memória.
Como a composição genética e as condições ambientais únicas afetam nossa memória, foi preciso entender a interação entre a genética e o microbioma intestinal.
Método de pesquisa
Os pesquisadores se valeram de análises laboratoriais em cobaias para identificarem essa conexão. Eles criaram 29 linhagens diferentes de camundongos para simular a diversidade genética e física de uma população humana. Isso incluiu ratos de diferentes tamanhos, cores e disposição, cada linhagem com um genoma identificado.
Primeiro, a equipe testou o efeito dos probióticos em cada uma dessas linhagens. Em seguida, eles examinaram suas variações genéticas e correlacionaram essas variações com os resultados da memória. Foram encontrados dois conjuntos de genes associados à memória: um deles era um conjunto de novos genes que podem influenciar a cognição, enquanto o outro conjunto de genes já era conhecido.
Por fim, os pesquisadores analisaram o microbioma intestinal de cada linhagem para estabelecer conexões microbianas com os links genéticos e de memória preexistentes. Eles identificaram quatro famílias de micróbios associados à melhoria da memória, e o mais comum deles foi uma espécie de lactobacilo, L. reuteri.
Para testar essa associação, os pesquisadores alimentaram L. reuteri a outros camundongos e testaram sua memória. Foi observada uma melhora significativa em relação aos ratos com a flora intestinal deficitária. Eles também encontraram a mesma melhoria quando alimentaram demais camundongos saudáveis com outras espécies de Lactobacillus.
Dieta e probióticos melhoram nossa memória
Os pesquisadores queriam identificar quais moléculas relacionadas ao lactobacilo poderiam estar envolvidas no aprimoramento da memória. Eles analisaram amostras clínicas dessas cobaias, cada uma delas alimentada com uma espécie específica de lactobacilo, e verificaram uma maior concentração de lactatos em seus resíduos metabólicos.
A equipe forneceu lactatos para camundongos com memória deficiente, e notou uma melhora na sua capacidade cognitiva. Os ratos alimentados com lactatos ou lactobacilos também apresentaram níveis aumentados de ácido gama-aminobutírico (GABA), um mensageiro molecular ligado à formação de memória no cérebro.
Para verificar se o mesmo mecanismo molecular também se aplica aos seres humanos, os pesquisadores desenvolveram um pequeno chip que imita a forma com que os micróbios interagem com o tecido intestinal humano. Quando o lactobalico L. reuteri foi testado nesse chip, verificou-se que o lactato produzido pelos micróbios viajava através do tecido intestinal humano, indicando que ele poderia entrar na corrente sanguínea e potencialmente viajar para o cérebro.
Esta pesquisa reforça a ideia de que dieta, genética e memória estão conectados, e é necessário aprofundá-la para demonstrar se os lactobacilos podem de fato melhorar a memória em humanos. As pesquisas tentam estabelecer a possibilidade de um dia se usar probióticos para melhorar a memória em pessoas com dificuldades de aprendizagem e distúrbios neurodegenerativos.