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A dieta mediterrânea pelos olhos de uma especialista

A nutricionista Margot Carone mora há 28 anos em Londres. Uma de suas avós era libanesa. A outra, descendente de indígenas e portugueses, e casada com um italiano. Ela própria é casada com um neozelandês. Em meio a influências tão diversas, esta capixaba que também morou anos no Rio de Janeiro não tem dúvida na hora de comer: opta pela dieta mediterrânea. E em seus workshops, prega os benefícios e prazeres do que considera mais do que propriamente uma dieta, mas um estilo de vida.

“Não é uma dieta por si só”, diz ela. “Não há uma maneira única de seguir. Cada país tem suas peculiaridades. A regra geral é entender a dieta mediterrânea como um estilo de vida saudável.”

Margot afirma que, apesar das diferenças culturais, os países banhados pelo Mar Mediterrâneo têm esse denominador comum. Em todos eles, a boa mesa pode incluir frutas frescas e secas, cereais, nozes, laticínios e azeite de oliva. Mas um dos segredos é a proporção dos alimentos no prato. Outro, a procedência deles. E outro ainda, a sociabilidade no ato de comer: também faz parte da dieta mediterrânea o prazer do convívio durante a refeição.

Para entender a composição da dieta mediterrânea que preconiza, a nutricionista sugere imaginar uma pirâmide, em cuja base estão as atividades físicas e sociais e os alimentos mais consumidos: verduras, legumes, sementes, cereais (de preferência integrais), feijões, ervas, temperos e azeite de oliva extravirgem. No meio da pirâmide estão aqueles de consumo um pouco menor: peixes e frutos do mar. Mais acima, aqueles que devem ser apreciados com moderação: queijo, iogurte, ovos e aves. E no topo, os menos frequentes: doces e carne vermelha. Água sempre presente, e também chás, café e vinho.

 

BIODIVERSIDADE E SUSTENTABILIDADE

Margot assinala que no conceito da dieta mediterrânea a leveza passa não só pelos alimentos, mas pelos costumes. As pessoas tendem a sair mais, a se expor mais ao sol e a comer mais devagar e na companhia de parentes e amigos. Outros hábitos saudáveis são valorizar alimentos provenientes de pequenos produtores e comprar em pequenas lojas, o que contribuiria para a biodiversidade e sustentabilidade.

“É uma dieta fácil de ser seguida, porque não há um plano restrito. Desconstrói a ideia de dieta como uma coisa rígida em que você precisa perder calorias e permite que as pessoas entendam o que é melhor para elas”, afirma.

Cultuado na dieta mediterrânea, o hábito de cozinhar em casa é uma boa maneira de controlar o que se come, diz ela, atentando também para a importância da sazonalidade, ou seja, priorizar legumes e frutas da temporada.

“A comida é importante porque nos conta uma história, nos conecta com pessoas, culturas, e mantém viva a memória de nossos entes queridos”, diz Margot. No seu caso, a avó de origem indígena e portuguesa, casada com um italiano, é uma lembrança forte. “Ela levava uma vida simples e sabia aproveitar tudo nos alimentos para manter os doze filhos bem nutridos. Praticava a cucina povera, a própria essência da dieta mediterrânea.”

 

SAÚDE E LONGEVIDADE

Com origem no sul da Itália, em tempos em que as famílias dispunham de poucos recursos para prover uma boa alimentação, a cucina povera é hoje considerada um estilo de culinária despido de excessos, saudável e com ingredientes simples. Foi depois de encontrar uma alta concentração de pessoas centenárias justamente no sul da Itália que o fisiologista americano Ancel Keys cunhou o termo “dieta mediterrânea”, nos anos 1950.

Keys testemunhou naquela população um baixo índice de doenças cardíacas, que atribuiu à baixa ingestão de gordura animal, o que foi comprovado mais tarde em estudos sobre a dieta mediterrânea. Homem de hábitos saudáveis, ele próprio foi um exemplo de longevidade. Nascido em 1904, faleceu em 2004, dois meses antes de completar 101 anos.

Para Margot, a dieta deve ser vista como um aspecto importante do bem-estar e da saúde. Adepta do aproveitamento total do alimento, entusiasta de culinárias tradicionais, exploradora de ingredientes inusitados e cozinheira de mão cheia, ela oferece receitas e dicas de culinária saudável no site Margot’s Kitchen e no Instagram (margots.kitchen).

Bruno Casotti é jornalista e tradutor.

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