Em meio à recente mobilização em torno da conferência do clima da ONU, na Escócia, as advertências dos cientistas foram claras: se mantivermos nosso atual modo de vida, nosso planeta entrará em colapso. Sabemos que precisamos mudar a maneira como interagimos com o mundo natural, mas como mudar essa relação? A resposta estaria na sabedoria dos indígenas.
Esta é uma relação que a PhD Yuria Celidwen conhece bem, respaldada por sua origem indígena mexicana – ela descende de nahuas e maias – e por seu trabalho, que combina estudos indígenas, psicologia cultural e ciência contemplativa. Funcionária da ONU, Celidwen também participa de esforços humanitários, dedicando-se especificamente ao avanço dos direitos dos povos indígenas e dos direitos da Terra.
A estudiosa não tem dúvida de que há lições sobre o clima essenciais a serem aprendidas com as cerca de 5 mil comunidades indígenas restantes no mundo. Elas protegem nosso mundo natural. Embora cada cultura tenha sua maneira própria de se relacionar com a terra, tudo começa sempre pelo respeito. Existe a compreensão de que a terra nos controla, e não o oposto.
“Precisamos avançar para além do bem-estar humano e nos voltar para o bem-estar de toda a Terra”, diz Celidwen ao site mindbodygreen. “A sabedoria indígena pode ser crucial para a descoberta de soluções para as crises climáticas no sentido de que nos relacionamos com todas as manifestações de vida na Terra e as reverenciamos.”
Essa compreensão por vezes vai contra a abordagem ocidental do ambientalismo, que Celidwen considera com frequência mais individualista. A humanidade estaria em busca de maneiras de continuar a extrair mais recursos naturais para ter dinheiro, poder, prestígio. Estaríamos salvando o mundo para nos salvar. Mas não é bem o que está acontecendo.
PERDA DE LÍNGUAS ASSOCIADA À PERDA DA BIODIVERSIDADE
Uma maneira mais indígena de se relacionar com a terra está expressa no entendimento de que todos os seres vivos do planeta – incluindo a terra, o céu, os animais e os seres humanos – são iguais. São parentes. Dessa perspectiva, o ser humano não tem precedência sobre as necessidades ambientais.
Embora as áreas indígenas representem 20% das terras no mundo, estima-se que suas comunidades protejam 80% da biodiversidade florestal restante. Portanto, quando as culturas indígenas são ameaçadas, o resto da vida também é. “Podemos ver claramente o que interdependência verdadeiramente significa”, diz Celidwen.
“Juntamente com a extinção maciça de espécies, está acontecendo uma extinção cultural e linguística que afeta profundamente os povos indígenas de todas as maneiras”, afirma a especialista. Das cerca de 7 mil línguas faladas existentes no mundo, mais da metade são indígenas, observa. Segundo ela, a área que sofre a maior perda linguística – o chamado cinturão tropical – é também aquela que está perdendo biodiversidade de forma mais acelerada.
Celidwen assinala que os povos indígenas têm uma consciência aguçada da relação com o meio ambiente e cultivam um forte sentimento de reverência à Terra. Já o Ocidente “tem uma grande capacidade de pragmatismo, de realizar projetos”. Ela emenda: “Com essas duas maneiras de ser e conhecer, podemos restaurar e cuidar da Terra de maneiras que visem a um benefício sustentável e coletivo.”
A constatação é de que a resolução da crise climática exige que olhemos para além de nós mesmos e colaboremos com os outros – humanos e não humanos. Celidwen recomenda aos não indígenas aprender mais sobre as comunidades indígenas que existem perto de onde eles moram e entender quais são as necessidades delas.
Fonte: Artigo de Emma Loewe para o site mindbodygreen.