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Ciência avança em uso medicinal de droga psicodélica

Resultados positivos para o uso de ibogaína no tratamento de distúrbios mentais e dependência química têm sido relatados há anos em trabalhos científicos, mas cercados de polêmica, por tratar-se de uma droga psicodélica. Pesquisadores da Universidade da Califórnia disseram agora ter encontrado um caminho para criar uma versão mais segura de ibogaína, que retém as propriedades medicinais da substância mas elimina a toxicidade e os efeitos alucinógenos.

Relatado na revista científica Nature e divulgado no site Medical News Today, o estudo foi realizado num dos poucos laboratórios americanos autorizados a trabalhar com esse tipo de substância. À frente da pesquisa está o professor de bioquímica e medicina molecular David Olson, que advertiu: “Os psicodélicos estão entre as drogas mais fortes que sabemos que afetam o cérebro. É inacreditável que os conheçamos pouco.”

Olson e seus colegas fizeram um composto que, segundo eles, poderia tratar distúrbios como depressão, vícios em drogas, ansiedade e estresse pós-traumático. Primeiro, eles identificaram as partes da molécula de ibogaína que podem ser responsáveis por seus efeitos terapêuticos. A partir daí, criaram uma nova molécula menos tóxica e com menor probabilidade de afetar o coração, um dos maiores riscos do uso da substância constatados.

A ibogaína é um alcaloide que representa o princípio ativo da iboga (Tabernanthe iboga), uma planta nativa de florestas tropicais africanas. Está presente na raiz da planta, da qual se pode fazer um chá. Há séculos é usada em rituais religiosos em países como Camarões, Gabão, Congo, Angola e Guiné Equatorial, e também na América Central. Estudos científicos indicam seu poder de desintoxicar o corpo e a mente, ajudando no tratamento contra o uso das drogas como crack, cocaína e heroína.

 

ANVISA CONTROLA COMPRA DE IBOGAÍNA

No ano passado, o governo brasileiro divulgou documento em que desautoriza o uso da ibogaína em tratamentos para dependência química. Afirmou não haver evidências científicas e alertou tratar-se de substância que interage com vários sistemas neurotransmissores do cérebro e pode produzir reações adversas como arritmias cardíacas, estado alterado de consciência, náuseas, vômitos e crise epilética.

A Anvisa autoriza a compra de ibogaína desde que haja laudo médico e um termo de responsabilidade firmado pelo médico e pelo paciente. O Grupo Aliança Pela Vida, especializado em recuperação de drogados, oferece tratamento com ibogaína, mediante avaliação de psicólogos, psiquiatras e outros profissionais.

Acredita-se que a ibogaína aja sobre a química do cérebro estimulando a produção de GDNF, hormônio que promove a regeneração do tecido nervoso, permitindo a formação de conexões entre neurônios. Com isso, a substância recuperaria áreas do cérebro associadas à dependência química. Além disso, favoreceria a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores que causam bem-estar.

Seu uso também teria efeitos psicológicos positivos, levando o paciente a identificar fatores que o teriam levado a consumir drogas.

Divulgado no ano passado, um parecer técnico-científico realizado na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais considerou fracas as evidências em favor da utilização de ibogaína no tratamento de transtornos por uso de drogas.

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