De volta para o futuro. Nem Robert Zemeckis, diretor da trilogia futurística, nem Steven Spielberg, nem nenhum outro cineasta poderia prever tal pandemia. Ou eles já sabiam?
É uma nova era da volta das reuniões familiares, ao umbigo da mãe, à conexão, ao afeto, ao sentimento de pertencer, de estar unido, mesmo separados (no caso de alguns). É tempo de desacelerar, de ler, pensar e até desligar a mente, meditar, educar os filhos (e, por que não, dar aulas em casa?), de dar a devida importância a pessoas em nossas vidas. Feliz ou infelizmente, somos seres sociais, e não somos nada se não pudermos compartilhar. E, sem o vazio imposto por um vírus dessa gravidade, talvez não chegássemos a essa conclusão. Que bela oportunidade! É a chance de renascer.
Percebermos que prateleiras cheias nos supermercados nunca foram tão supérfluas. Necessitamos de muito pouco, porém itens de qualidade. Batatas fritas, doces, biscoitinhos, refrigerantes e todas as “comidas falsas”, finalmente, vão perder o protagonismo. É tempo de se cuidar e cuidar dos seus amados (e daqueles que você ainda não teve a oportunidade de conhecer).
Que sábio o Planeta. Não sei o Leonardo DiCaprio, mas eu estou comemorando (não o vírus, a doença, o sofrimento e as mortes, claro). Sei que é sério e não estou falando da consciência sobre o coronavírus, mas de todo o significado e significância que ele nos traz.
As pessoas mais velhas poderão ter a oportunidade de aprender a usar a internet com parentes mais jovens, e os pedidos, de praticamente tudo, podem ser feitos por aplicativos (salve a internet! — nunca pensei que diria isso). E os mais jovens poderão desfrutar da experiência da vivência dos mais velhos.
Gastaremos menos tempo com distrações que nos distanciam do nosso ser: bares, festinhas e outros locais que apenas dragam a nossa energia perderão espaço. Sem dúvida, os empresários vão sofrer desaceleração, mas onde se ganha menos, a demanda diminui e, com ela, os preços. O custo de vida cai, a prioridade da qualidade em todos os setores de nossas vidas aumenta.
Viajar, sim, por favor, sempre — ousaria dizer que é a minha maior fonte de inspiração, agora, porém, com propósitos verdadeiramente enriquecedores. Voltou a ser luxo, e todas as companhias aéreas terão que repensar seus preços. Máscaras? Cairão todas. Impossível ficar tanto tempo trancados em um mesmo ambiente sem ter que encarar seus fantasmas e os dos outros. O coronavírus veio coroar a transparência, que vem com um preço alto, mas espero que não.
Entretanto, o espelho vem coroado. Relações de verdade serão coroadas e as de mentira serão desmascaradas. Beijar por beijar, desculpe, não importa seu gênero ou escolha, não dá mais. É tempo de conectar, mesmo que virtualmente, mas com verdade. É tempo de realismo. A azaração será nos mercados, entre prateleiras, pelo olhar que é o espelho da alma. E, se verdadeiramente valer o risco, se concretizará.
Redução de consumo, sim! Você não precisa de nada. Jejuar — como já pregam sabiamente várias religiões — fará parte do menu semanal. Roupas, bolsas, carros e sapatos? Pra quê? Alguns são irresistíveis, mas para que tantos? Afinal, não serão tantas idas ao mercado.
Plantar algumas ervas em casa, pedir orgânicos pela internet, voltar a cozinhar para seu maridão ou sua esposa (duvido que tenham escolhido mal e, se o fizeram, nunca ficará tão claro) e seus filhos e familiares e, com eles, colocar comida na porta de casa para aqueles que não tiveram como comprar no seu prédio. Aliás, você conhece os seus vizinhos? Agora vai conhecer e cantar da sacada de casa como os italianos e vai achar graça em tantas “simplicidades”, como no tempo dos nossos avós. Alguém falou em “adedanha”, baralho, mímica ou dominó? Muitas opções além da TV e do celular nesse período de quarentena.
Estou otimista. Acho que o planeta é muito mais sábio do que nós, meros estúpidos e cegos diante de tanta tristeza, mediocridade, egoísmo, miséria e solidão. O tempo é de aprendizado. E agora, não há mais retorno.
Deixar máscaras para aqueles que realmente necessitam, especialmente em hospitais. Olhar para dentro, cuidarmos da higiene lavando a mão o quanto pudermos e pararmos de “discutir” sobre papel higiênico! Afinal, se você comer menos, pode cagar (desculpe o realismo) menos se você “jejuar” por alguns dias.
Quanta luz e desperdício de energia com digestão (as impróprias, nem se fala). Doarmos amor com o olhar sem precisar tocar (tocar é ótimo, mas muitas vezes desnecessário). Estabelecer prioridades e compartilhar, afinal, de que adianta ter muito se não posso dividir?
Corona (coroa em espanhol), seu nome diz tudo. Espero poder aprender. E que todos estejamos juntos nesse momento. Na consciência coletiva. Cuidando do nosso templo pessoal que é o nosso corpo, mente e alma. E quando tudo isso passar teremos renascido como Reis e Rainhas, coroando nossa divindade pessoal que é gigantesca e generosa. Axé.