O futuro da alimentação está no mar? Para a cientista marinha Pia Winberg, sim. Ela dirige a primeira empresa de cultivo de algas com finalidade alimentícia da Austrália – em Jervis Bay, ao sul de Sydney. E atesta a possibilidade de produção em grande volume e a qualidade nutricional do alimento: as algas são facilmente cultiváveis e ricas em fibras e ômega 3.
As algas de Winberg são cultivadas em grandes tanques, juntamente com mexilhões, e são usadas como ingrediente em macarrão e outros produtos. Absorvem resíduos de dióxido de carbono provenientes de uma fábrica que processa trigo, contribuindo, portanto, para reduzir os efeitos ambientais nocivos da agricultura convencional.
“Quando usamos dez por cento de algas marinhas em vez de trigo em pães e massas, eliminamos um milhão de hectares de terra, eliminamos todas as emissões de dióxido de carbono associadas as pressões sobre a preciosa água doce”, afirmou a cientista à BBC.
Na aquicultura australiana, predomina a criação de salmão, atum e ostras, também ricos em ômega 3. O país é cercado por um vasto litoral, estímulo natural à criação de pescados. Nenhuma dessas espécies atua, porém, como um filtro ecológico ou apresenta as facilidades de cultivo das algas marinhas.
Martina Doblin, CEO do Sydney Institute of Marine Science, estimou à BBC que a metade dos alimentos dos cerca de dez bilhões de habitantes previstos para o planeta em 2050 virá do oceano. “Portanto, precisamos prestar atenção no modo como administramos a economia azul, gerando riqueza mas de modo sustentável”, afirmou.
EQUILÍBRIO ECOLÓGICO EM AMBIENTES AQUÁTICOS
Se Winberg associa seu negócio ao futuro, a pesquisa “Aspectos do cultivo de algas marinhas com vistas à sustentabilidade da atividade”, realizada por um grupo de biólogos brasileiros e disponível na internet, mostra que essa é uma atividade antiga.
“A alga pode realizar a manutenção do equilíbrio biológico nos ambientes aquáticos, ocasionando a continuidade da fauna existente, que pode ser utilizada pela humanidade como fonte de alimento e matéria prima”, diz o estudo.
Formações vegetais existentes nos mares e oceanos e capazes de realizar a fotossíntese, as algas marinhas também servem de alimento e abrigo a várias espécies que habitam os ambiente aquáticos. Pesquisas indicam que todas as plantas eram marinhas há 450 milhões de anos, atestam os biólogos.
A Ásia detém 98% da produção mundial do setor, que passou a interessar ao Brasil a partir da Segunda Guerra Mundial, afirma o estudo. Nessa época, o Japão detinha o monopólio da produção de algas ágar-ágar e parou de exportá-las. Pelo menos 35 países passaram então a investir no cultivo de algas.
Segundo o site Agricultura e Abastecimento, do governo de São Paulo, o Instituto de Pesca pesquisa o cultivo de algas desde 1995. Estudos constataram os benefícios dessas plantas, que vão do sequestro de gás carbônico na atmosfera à alimentação humana e animal, além da disponibilidade de biomassa para indústrias agrícolas, alimentícias, cosméticas, farmacêuticas e de biofertilizantes.