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Lições de estratégia e liderança em ultramaratonas

Certa manhã de domingo, fui do Rio a Petrópolis para assistir à chegada do meu marido, que corria uma prova de ultramaratona de cem milhas, ou cerca de 160 quilômetros – o equivalente a quatro maratonas completas (sim, você leu certo, quatro).

Leo foi o segundo colocado geral na primeira edição da OneHundred FKT, correndo em terra batida, trilhas e asfalto, de Piraí à Catedral de Petrópolis, no tempo de 15 horas e 20 minutos. Chegou atrás apenas do seu treinador, Iazaldir Feitosa, que ganhou a prova em 14 horas e 45 minutos.

Mais do que a performance em si, o que sempre me impressiona nele é sua capacidade de ter resultados equivalentes aos de um atleta profissional, em meio a uma rotina bastante puxada como executivo de inovação e pai. Tudo isso sem deixar de priorizar o trabalho e a família.

Mestre em engenharia de computação, Leo é conhecido no meio esportivo como o cientista das ultramaratonas, por sua metodologia ao traçar a estratégia de prova e executá-la com maestria.

Na BR135, uma prova de 217 quilômetros em que ele foi campeão, sua fama de reloginho ganhou ainda mais força pela constância na velocidade em 27 horas de corrida e pela capacidade de se manter fiel ao plano traçado, mesmo que isso significasse sobrar bastante na primeira metade da prova.

Numa entrevista descontraída pós-prova com João Andrade, um dos organizadores da OneHundred, eles falaram sobre foco, resiliência, autocontrole emocional e ousadia, traçando um paralelo interessante entre vida executiva e corrida.

Ao acompanhar esse bate-papo, percebi que o que eu aprendo convivendo diariamente com o Leo vai muito além da disciplina dos treinos. Aprendo todo santo dia sobre estratégias de gestão, planejamento e liderança, em busca da alta performance.

Por isso, resolvi dividir aqui as dicas mais bacanas – e o melhor: sem ter que correr mais de cem quilômetros para isso!

 

INTELIGÊNCIA DE DADOS É A BASE PARA UM PLANEJAMENTO ASSERTIVO

Quando se inscreve numa prova, Leo analisa minuciosamente o percurso, elevações, condições de terreno e clima, além da performance de corredores em edições anteriores. Com os dados em mãos, ele faz uma série de simulações – e usa o autoconhecimento que tem do seu próprio corpo para adaptar sua estratégia de ritmo, alimentação e hidratação.

“Para alcançar alta performance, preciso correr no meu limiar – isso significa não ir forte demais no início e ‘quebrar’, mas também não ir abaixo do que posso fazer.”

Ou seja, o planejamento acertado vem da capacidade de pegar um bando de informações, organizá-las e usar o conhecimento para ir ao limite, sem causar nenhum estrago, como lesão ou fadiga. Tudo é calculado minuciosamente, e ele faz uma estruturada checklist, às vezes até com planos B e C, para ter margem de adaptação sempre que necessário.

 

TREINE, TREINE, TREINE

Na entrevista, João Andrade chega a comparar Leo ao ídolo Ayrton Senna, pela capacidade de foco, profundidade com que conhece cada detalhe da máquina e da prova e, acima de tudo, por treinar, treinar, treinar – e puxar a si mesmo e sua equipe para irem ao limite.

“Para seguir um planejamento à risca, como um cientista, é preciso ter confiança absoluta no plano traçado. E isso vem com a prática, com a experiência e muito treino.”

 

CONFIE EM SUA EQUIPE

Durante os poucos mais de 160 quilômetros da prova, Leo contou com o suporte de uma equipe de três pessoas: seu preparador físico, Vagner Nascimento; e os amigos Breno Braga, empreendedor e ultramaratonista, e Bruno Oliveira, ciclista e advogado. Eles seguiram num carro próximo a ele e foram responsáveis pela navegação, alimentação e hidratação.

“É preciso delegar sem piscar. Isso exige esforço, pois é preciso confiar no outro, não apenas em si mesmo.” Para ele, o equilíbrio entre a humildade de ouvir a equipe quando preciso e saber quando exigir mais e puxar é fundamental para a alta performance.

Leo às vezes chega a dar bronca no time e confessa que não deve ser fácil atuar como apoio a ele. De qualquer forma, como João Andrade bem coloca na entrevista, “a pressão de um líder, quando bem aplicada, é boa para quem quer fazer parte de um time que vai além e alcança o melhor resultado possível”.

 

FOQUE NA SOLUÇÃO, E NÃO NO PROBLEMA

Com cerca de cinco horas de prova, Leo errou o percurso, correu sete minutos fora do caminho e, para completar, o carro da equipe de apoio atolou, deixando-o sem água e alimentação por duas horas.

Nesse momento de adversidade, em que muitos teriam se abalado, ele saiu pela estrada de terra perguntando a quem via pelo caminho se alguém teria um trator ou 4×4 para ajudá-lo. Ao avistar o fotógrafo da prova, não hesitou em pedir: “Por favor, tire meu carro da lama que eu vou ganhar essa prova.”

“Cabeça de campeão exige pensar na solução. Não fico perdendo tempo no problema, isso eu tento evitar no planejamento. Mas, depois que acontece, é trabalhar para resolver”, disse.

Como gerente de inovação de uma empresa de soluções de emergência em alto-mar, Leo administra simultaneamente diversos projetos altamente arriscados do ponto de vista tecnológico. “Tenho que mitigar os riscos, mas também saber improvisar quando há percalços no caminho e manter o foco no resultado desejado.”

 

APROVEITE O MOMENTO, E NÃO SE ESQUEÇA DO QUE É REALMENTE IMPORTANTE PARA VOCÊ

No último metro da prova, enquanto subia as escadas da Catedral de Petrópolis, Leo tropeçou e caiu com nossa filha no colo – logo antes de cruzar a linha de chegada.

Nessa hora, manteve a calma e, ao ver que ela estava bem, tratou de segurar carinhosamente nossa Fefê e dar a ela a oportunidade de segurar a faixa. “Não podia deixar de aproveitar o momento”, disse.

Esse autocontrole emocional rendeu uma memória que guardaremos para sempre: Alcançar resultados impressionantes, sem deixar de aproveitar o momento e valorizar aquilo que realmente importa, é o que para mim faz dele um verdadeiro campeão.

Eugenia Del Vigna é gerente executiva de marketing e especialista em estratégia de marca, marketing digital, CRM e liderança positiva.

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