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Livrar-se de dívidas melhora a capacidade cognitiva

Sofrer com o acúmulo de dívidas não é apenas o resultado de maus hábitos. Embora a falta de educação financeira seja um problema sério na sociedade contemporânea, pesquisas apontam que os problemas com a administração do dinheiro são resultado da pobreza, e não geradores de pobreza.

Uma pesquisa pioneira do Centro de Pesquisas de Serviços Sociais da Universidade Nacional de Cingapura comprova que a redução das dívidas entre quem mais precisa reduz a carga mental dessas pessoas, melhorando assim o desempenho psicológico e cognitivo.

Ou seja: ajudar financeiramente os mais pobres não é uma atitude controversa, e sim uma intervenção válida para melhorar a saúde mental da população. Isso leva  a uma melhor tomada de decisões e, consequentemente, diminuição dos níveis gerais de pobreza.

 

Aplicações práticas

Um grande desafio das políticas de alívio da pobreza é a crença de que os pobres estão endividados por causa de falhas pessoais. Faltariam a essas pessoas qualidades como motivação, talento, iniciativa e força de vontade. No entanto, estudos como esse mostram que, como a dívida prejudica o funcionamento psicológico e a tomada de decisões, é extremamente desafiador até mesmo para os mais motivados e talentosos escaparem da pobreza.

O estudo envolveu 196 indivíduos de baixa renda, cronicamente endividados, que se beneficiaram de um programa social administrado por uma instituição sem fins lucrativos em Cingapura. O programa social em questão era voltado para o alívio das dívidas entre famílias com renda mensal per capita inferior a US$1.500,00 e com dívidas crônicas pendentes há pelo menos seis meses. Tais dívidas incluíam hipoteca ou aluguel, serviços públicos, impostos, contas telefônicas e dívidas com compras. Antes do alívio da dívida, a renda média mensal domiciliar per capita dos participantes era de US$ 364,00, em média.

A equipe mediu a ansiedade e o funcionamento cognitivo, bem como a tomada de decisões financeiras dos participantes. A pesquisa foi realizada antes dos participantes terem suas dívidas quitadas e três meses após esse auxílio.

 

Efeitos positivos

O estudo descobriu que os participantes apresentaram uma melhora considerável em sua saúde mental três meses após terem suas dívidas quitadas. Os que possuíam mais dívidas quitadas apresentaram um funcionamento cognitivo melhor, independente do valor total do montante.

Essas descobertas confirmam que estar cronicamente em dívida prejudica o funcionamento psicológico e a tomada de decisões. Os resultados também sugerem que as pessoas colocam cada dívida em uma “conta mental” separada, e que estar “no vermelho” com muitas dívidas é psicologicamente mais doloroso do que possuir apenas uma grande dívida. Pensar em como pagar essas contas consome recursos mentais, aumenta a ansiedade e piora o desempenho cognitivo. Essas emoções negativas impedem que as pessoas cronicamente endividadas tomem as decisões certas para melhorar sua situação social, em um ciclo vicioso de débito e pobreza.

 

Responsabilidade social

Por que algumas pessoas são capazes de lidar com dívidas facilmente, enquanto outras as consideram estressantes e desgastantes? Os pesquisadores ressaltaram diferenças em como pessoas com menos e mais recursos financeiros gerenciam suas dívidas.

Quem possui mais recursos financeiros pode administrar suas dívidas a um custo menor, com menor impacto em sua renda mensal. Pessoas de classe média podem consolidar suas contas em um cartão de crédito, por exemplo, e pagá-las automaticamente. Sua carga mental é menor pois sabem que podem arcar com uma despesa inesperada ou um gasto ocasional, desenvolvendo resiliência aos altos e baixos da vida que os mais pobres simplesmente não possuem.

 

Medidas práticas

Os resultados deste estudo abrem caminho para implementação de bons programas de alívio da dívida para famílias de baixa renda com foco em sua saúde mental.

A falta de ajuda para essas famílias de baixa renda endividadas reduz a produtividade e intensifica seu estresse e ansiedade, aumentando os níveis de pobreza e aprofundando ainda mais as desigualdades sociais. E como é o acúmulo de dívidas, mais do que o montante, que causa os transtornos, as intervenções nesse sentido deveriam se concentrar em diminuir a carga mental dessas famílias.

Os pesquisadores sugerem que as intervenções políticas que simplificam as dívidas melhorariam significativamente o funcionamento cognitivo e psicológico e reduziriam o comportamento contraproducente. Por exemplo, reestruturar ou consolidar a dívida pode ser uma política mais sustentável, pois é menos onerosa e mais eficaz do que simplesmente liquidar a dívida. Em termos mais gerais, as intervenções de alívio da pobreza devem visar e reduzir os fatores que contribuem para as cargas mentais das pessoas financeiramente mais vulneráveis, que sofrem mais com o acúmulo de dívidas.

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