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Livro dá provas de resistência durante a pandemia

O mercado editorial sempre teve altos e baixos – provavelmente desde 1445, quando o alemão Johannes Gutenberg imprimiu pela primeira vez um livro no Ocidente, a Bíblia. Em meio às turbulências da pandemia e à concorrência de sua versão digital, o livro impresso tem mostrado capacidade de resistência. Exemplo recente disso foi um episódio em Nova York. Sob o risco de ter que fechar seu negócio, Nancy Wyden, proprietária da tradicional Strand Bookstore, recorreu às redes sociais, apelando à comunidade para que a ajudasse a manter as portas abertas. A reação foi impressionante. Além da fila de dobrar quarteirão que se formou diante da loja, o site da livraria recebeu 25 mil pedidos em dois dias.

“Pela primeira vez em 93 anos de história da Strand, precisamos mobilizar a comunidade para comprar nossos livros, para que possamos manter nossas portas abertas até que haja uma vacina”, tuitou Wyden. Sua aflição se transformou em alívio em 48 horas, quando ela já havia faturado algo em torno de US$ 200 mil, graças à solidariedade dos leitores. Eles não poderiam permitir o fechamento desse símbolo da contracultura nos anos 1960, uma verdadeira atração turística em Manhattan.

Ao Washington Post, Wyden declarou: “Como posso não amar minha comunidade de leitores por me ajudar dessa maneira? Acho realmente que não somos apenas uma livraria. Acho que somos um lugar de descoberta e um centro da comunidade. Quando peço ajuda e respondem rápido assim, é reconfortante.”

Outra prova de resistência do livro se deu na França. Choveram protestos quando se soube que a decisão do presidente Emmanuel Macron de manter fechados estabelecimentos que vendem itens não essenciais – por conta da segunda onda da pandemia – incluiria as livrarias. “A cultura é essencial. É um erro sacrificá-la. Os parisienses consideram sua livraria uma loja essencial”, disse a prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Até a primeira-dama, Brigitte Macron, reclamou da decisão do marido, segundo o Le Parisien.

Editoras, sindicatos e escritores reuniram 185 mil assinaturas numa carta que enviaram ao presidente, exortando-o a “escolher a cultura”. “Deixe nossas livrarias abertas para que o confinamento social não se torne também um isolamento cultural”, escreveram eles. “Nossos leitores, que amam as livrarias independentes, não entenderiam e veriam isso como uma injustiça.” Em solidariedade ao movimento, os organizadores do prêmio literário Goncourt, criado em 1896, ameaçaram adiar sua próxima edição.

As manifestações se multiplicaram nas redes sociais. “Lojas de vinho abertas, livrarias fechadas: o símbolo é forte”, tuitou o romancista Maxime Chattam. Já o escritor Serge Joncour disparou: “Fechar livrarias durante o confinamento é confinar as pessoas à ignorância.”

Donos de livrarias independentes – mais de 3 mil no país – reclamaram que os supermercados continuavam vendendo livros, enquanto eles eram obrigados a fechar as portas. Em meio a ameaças de desobediência civil, Macron resolveu fechar as seções de livros dos supermercados, o que só fez piorar a situação. Houve até uma corrida a bibliotecas de bairro. Foi o que fez a parisiense Sylvie Lagrange, procurando ter o que ler. “Me parece estúpida a decisão de proibir as seções de livros nos supermercados. Nos deixam sem cultura”, disse ela à AFP.

Pelo menos na terra de Proust, Molière, Victor Hugo e Jean Paul Sartre, não resta dúvida de que o hábito da leitura ainda é considerado essencial.

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